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  • Foto do escritorCauê Petito

AQUAMAN | Rei Momoa das águas

Atualizado: 8 de jan. de 2023


Jason Momoa em cena do filme Aquaman (2018) | Foto: Divulgação (Warner Bros. Pictures)

Oriundo do cinema de horror – onde a câmera é tão personagem quanto as pobres almas que habitam a história, e a manipulação dos elementos que se arquitetam no quadro são tão essenciais para a trama quanto o roteiro –, James Wan começou, com Velozes e Furiosos 7 (2015) um salto para um cinema blockbuster que atinge seu ápice criativo e monetário neste Aquaman (2018), mais novo filme do Universo Estendido DC. Servindo como um respiro das crises internas e dualidades criativas que abalaram o estúdio e suas produções nos últimos anos, o filme do herói aquático é indiscutivelmente aquele com menos interferências tonais que o anterior Liga da Justiça (2017), além de uma visão e compromisso bem definidos. É curioso, então, como a maior parte de seus problemas estejam aliados justamente aos caminhos criativos que seu diretor propõe.

Isto porque o Aquaman, como personagem, sempre foi renegado a um certo deboche, oriundo de seus próprios poderes: “o herói que consegue falar com os peixes”. Assim, em toda escolha autoral tomada por Zack Snyder envolvendo a sua figura, desde a escalação do barbudo movido a testosterona Jason Momoa como Arthur Curry / Aquaman, que contrapõe com a versão popularizada no imaginário coletivo do “loirinho vestido de laranja”, o que pairava sempre era um ar desajeitado de insistência, como se o cineasta a todo momento estivesse forçando nele uma atitude que só denotava, justamente, insegurança.

Assim, quando Wan se apossa deste mundo subaquático, ele deixa bem claro que este não é o herói de Zack Snyder. Trabalhando com o que tem, o diretor mantém a personalidade inconsequente – e o carisma nato de Momoa – introduzida pelo colega, mas abraça a tolice natural do personagem e seu universo, apostando no kitsch, que serve como mote para toda a narrativa. Desta forma, tudo em Aquaman é assumidamente brega, melodramático e exagerado – e frutos dessa cafonice surgiam já em seu ótimo terror Sobrenatural (2010). O questionável se torna o caminho, enquanto músicas pop entram e saem sem vergonha alguma de cenas que não pediriam pelas mesmas.

Ação, Aventura, Romance, Comédia e até elementos de Horror surgem, assim mesmo, em letras maiúsculas, sem a sutileza que realmente não é intencional. A proposta do exagero, no entanto, implode. É difícil não lembrar de Austrália (2008), de Baz Luhrman, que falhava por motivos parecidos. Não é a toa, também, que seja Nicole Kidman quem vive a mãe do protagonista e se sai melhor em Aquaman.

Seguindo seus aprendizados do horror, Wan sempre procura por soluções visuais criativas para contar sua história. Assim, um simples diálogo se transforma numa batalha. Uma transição de cena se torna quase uma montanha russa – e o filme realmente parece como uma atração de parque de diversões, já que viaja pelos mais diferentes tipos de cenário, das profundezas do oceano ao deserto do Sahara –, na câmera que se adentra em globos de neve para revelar novas locações. Tudo se move, tudo é climático. E, portanto, nada é.

Tais escolhas parecem até mesmo ressaltar algum tipo de insegurança do cineasta com o roteiro que tem em mãos, escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick, de Invocação do Mal 2 (2016), e Will Beall, de Caça aos Gângsteres (2013). Nele, nada mais que o usual, com Amber Heard vivendo uma mocinha que é forte apenas superficialmente, pois não adianta dizer que sua personagem é forte quando se trabalha apenas com arquétipos proporcionados pelo caminho do kitsch –; Willem Dafoe encarnando a figura paterna que treina o protagonista; e Patrick Wilson fazendo um vilão competente ao lado do estiloso Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), também oriundo dos quadrinhos.

O que vem dos quadrinhos são os aspectos mais bem resolvidos do filme, com uma fidelidade doentia por parte de Wan e seus diretores de arte Bill Booth, Desma Murphy e Fred Palacio. Nada é muito funcional, mas nem era pra ser. Os inevitáveis e divertidos momentos de autoproclamação de nome (“podem me chamar de... Mestre dos Oceanos!”) fortalecem mais ainda o caráter pulp presente em várias partes, evidenciados pelas citações de Júlio Verne.

No fim, é uma produção que se assemelha mais com uma aventura da Disney do que um “filme de super-heróis” de fato, e não há problema nisso. A questão é que todas as suas qualidades – majoritariamente estéticas – se perdem justamente pelo excesso, num filme descontrolado, de propostas ousadas, mas, no fim, falhas. Algo que não se pode dizer, é verdade, é que Aquaman erra por falta de tentar.

 

Aquaman (Aquaman, 2018)

Duração: 143 min | Classificação: 12 anos

Direção: James Wan

Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall

Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Nicole Kidman e Yahya Abdul-Mateen II (veja + no IMDb)

Distribuição: Warner Bros. Pictures

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