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  • Foto do escritorNayara Reynaud

ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS CRIMES DE GRINDELWALD | Um capítulo de passagem

Atualizado: 26 de nov. de 2020


William Nadylam, Claudia Kim, Dan Fogler, Eddie Redmayne, Katherine Waterston e Callum Turner em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018) | Foto: Divulgação (Warner Bros.)

O senso comum sempre diz que se leva um tempo para aprumar o passo. Na franquia Harry Potter se observou isso, com o mundo mágico criado por J.K. Rowling na famosa série de livros sendo apresentado nos dois primeiros filmes dirigidos por Chris Columbus sendo aventuras infantis nos moldes de antigamente e um tanto arrastadas, mas só ganhando vida de fato nas telas a partir do terceiro, o ótimo Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004), em que Alfonso Cuarón injeta o tom mais sombrio e sério que agregou novos fãs à saga. Com o seu spin-off Animais Fantásticos o mesmo caminho acontece de forma até mais rápida com o segundo longa da história pregressa deste universo da magia, mas o seu resultado não se revela igual.

Trazendo novamente David Yates, diretor dos últimos quatro filmes da franquia original, o novo segmento se mostrou eficiente enquanto aventura no primeiro Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), que agradava os fãs de Harry Potter e atraía o público infanto-juvenil de hoje com a procura de Newt Scamander (Eddie Redmayne) pelos exóticos e simpáticos bichos desta fauna mágica. No entanto, sua continuação Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018) logo adentra para o lado obscuro visto na série primária, sem uma história que sustente as conhecidas alegorias da autora em sua batalha entre o bem e o mal no mundo da magia ficcional espelhando a realidade dos meros mortais. A trama, escrita pela própria J.K. Rowling, fica amarrada em uma caça de vários personagens, já conhecidos ou introduzidos neste segundo estágio, pelo órfão de poderes inimagináveis Credence Barebone (Ezra Miller), ao mesmo tempo em que ele busca saber suas origens, mas cujas consequências são guardadas para uma próxima sequência – desde o início, aliás, estavam programadas a produção de cinco longas na saga derivada.

Sai a Nova York dos anos 1920 da primeira aventura de Newt com a auror Tina Goldstein (Katherine Waterston), a irmã dela Queenie (Alison Sudol) e o não-maj Jacob Kowalski (Dan Fogler), para entrar a Europa de fundo, voltando brevemente a Londres e Hogwarts, para delírio da plateia fanática, mas sendo centrada especialmente em Paris. Jude Law aparece vivendo Albus Dumbledore naquela época, deixando implícita a natureza de sua relação com Grindelwald (Johnny Depp), dizendo que eram “mais próximos que irmãos”, com direito a pacto de sangue. Por sua vez, até o clímax, o vilão não demonstra seu potencial, seja de poderes ou verbal, sem ter espaço para ser o antagonista complexo a la Magneto cujo lema é a crença de que a perseguição aos seus deva ser resolvida perseguindo os outros sem o seu dom/mutação. É justamente quando chega este momento em que Depp pode dispor de toda a sedução dos discursos demagógicos de “falsos Messias” que a roteirista e o diretor assinalam de forma clara suas alusões à II Guerra Mundial, explicitando o paralelo dos bruxos que passaram a seguir Grindelwald com o crescimento do nazismo e fascismo na Europa da década seguinte que culminou no conflito mundial – e refletindo também sobre os dias atuais.

Contudo, as boas intenções do discurso de J.K. Rowling e o excelente trabalho da equipe técnica na ambientação desse mundo mágico de época se esvaem quando não encontram uma trama para se apoiar e, para parte da plateia, personagens para se importar. Se com os maneirismos mais acentuados por Redmayne e detalhes no texto e na direção, fica mais evidente a possibilidade de Newt ter Síndrome de Asperger ou pertencer de outro modo ao espectro autista, ele não se mostra como um herói ou mesmo um protagonista quando a narrativa está preocupada em apresentar tantas novas figuras e/ou nomes e sobrenomes conhecidos deste universo e relegar os da aventura anterior a subtramas pouco desenvolvidas – Queenie, por exemplo, é uma personagem tão adorável no longa de 2016 e agora sofre uma mudança repentina que é fundamentada em apenas duas cenas. Junta-se a isso uma revelação final novelesca e tem-se um grande capítulo de passagem em 3D, este muito eficiente por sinal.

Mais do que expectativa para saber o que ocorrerá após tal “gancho” é a de observar o comportamento da franquia daqui em diante. Será que, seguindo a trilha de Harry Potter, o terceiro Animais Fantásticos será o grande ponto de virada da série? Ou revelará o principal erro dos Trouxas: explorar a magia até ela perder seu encanto?

 

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald, 2018)

Duração: 134 min | Classificação: 12 anos

Direção: David Yates

Roteiro: J.K. Rowling, baseado nos personagens criados por J.K. Rowling

Elenco: Eddie Redmayne, Johnny Depp, Katherine Waterston, Ezra Miller, Alison Sudol, Dan Fogler, Zoë Kravitz, Callum Turner, Jude Law, Claudia Kim, Poppy Corby-Tuech, William Nadylam, Kevin Guthrie e Brontis Jodorowsky (veja + no IMDb)

Distribuição: Warner Bros. Pictures

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