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Foto do escritorNayara Reynaud

HALLOWEEN | Os novos velhos temores

Atualizado: 17 de fev. de 2021


Judy Greer e Jamie Lee Curtis em cena de Halloween (2018) | Foto: Divulgação (Universal Pictures)

Quando John Carpenter filmou Halloween – A Noite do Terror (1978), talvez, não tivesse ideia de como sua obra seria seminal para o subgênero de terror dos filmes slasher e que a própria produção geraria uma franquia com vários títulos oficiais ou não e de qualidades variadas. Tentando se desvincular de um caráter mais pejorativo que essas continuações ganharam ao longo do tempo, o novo Halloween (2018), que conta com a produção do cineasta, se anuncia como a sequência direta do original, com a trama e o lançamento ocorrendo exatamente 40 anos depois. Com Jamie Lee Curtis retornando ao papel que a lançou em Hollywood, como uma Laurie Strode sempre alerta para a volta de seu algoz Michael Myers, novamente interpretado por Nick Castle em conjunto com James Jude Courtney, o longa é um prato cheio para os fãs, mas o diretor David Gordon Green faz dele um fan service que serve à narrativa sobre o verdadeiro “pós-terror”: as consequências do medo na vítima e até em seu agente agressor.

A homenagem é imediata nos créditos iniciais com a abóbora e sua cor nos caracteres, junto com a trilha sonora assinada por Carpenter, pelo seu filho Cody Carpenter e Daniel A. Davies, que revisita a composição que se tornou clássica. Ela atinge seu ápice, porém, na forma como o diretor constrói “parasequências” de cenas-chave do filme de 1978, da janela da escola ao guarda-roupa e a queda da varanda, ressignificando-as. O texto do roteiro de Green com Danny McBride e Jeff Fradley ainda brinca com fato do novo médico Dr. Sartain (Haluk Bilginer) fazer o mesmo papel que o psiquiatra Dr. Loomis (Donald Pleasence no original) e até com a sequência de 1981, na qual se afirmava que Laurie era irmã de Myers.

Desta vez, são os jornalistas britânicos Aaron Korey (Jefferson Hall) e Dana Haines (Rhian Rees) que, ao fazer uma reportagem investigativa para seu podcast especializado sobre o famoso Massacre das Babás que completa quatro décadas, apresentam o currículo de Michael para o público mais novo que desconhece o(s) longa(s) anterior(es) e despertam indiretamente o “bicho-papão”. Certas circunstâncias fazem o psicopata, considerado a encarnação do Mal, voltar ainda mais sanguinário em seu caminho, justamente no dia 31 de outubro, rumo à Haddonfield se comparado às poucas mortes da produção setentista. Embora muito de sua ação fique fora da câmera e se torne palpável através de induções narrativas, em uma construção do vilão que respeita a linguagem climática de Carpenter.

Para compensar uma plateia atual que deseja ser atraída a cada momento, a nova continuação investe, porém, em falsos jump scares para garantir os sustos que desejam em vez da atmosfera que sempre foi o principal nesta história. Diretor do cenário indie norte-americano, responsável por comédias como Segurando as Pontas (2008), Green e o roteirista e comediante McBride trazem um viés mais cômico que é muito eficiente em seu humor, mas esconde logo essa necessidade maior, em alguns momentos, de ambientação que o horror pede. Isso só chega de forma veemente e eficiente em seu clímax que guarda o aguardado reencontro de criador e criatura do medo.

Trazendo como lógica a ideia de que um vilão pode morrer, mas não o terror deixado por ele, o novo Halloween apresenta Laurie como a vítima que se igualou ao seu agressor, com sua paranoia por segurança prejudicando gravemente sua relação com a filha Karen (Judy Greer) e respingando agora na neta Allyson (Andi Matichak). Aqui, mesmo introduzindo mais o ambiente escolar, o filme perde o seu olhar alegórico existente no de 1978, com a figura castradora de Michael Myers como um vilão que representasse a repressão sexual ao furor hormonal da adolescência – lembre-se que o seu modus operandi de serial killer começa matando a irmã após vê-la fazendo sexo. Se a máscara do conservadorismo já não fica tão clara nele, Green consegue, contudo, representar a resistência feminina em tempos difíceis nas três gerações das mulheres Strode, ainda que a mão continue tremendo frente à ameaça de novos e/ou velhos horrores.

 

Halloween (Halloween, 2018)

Duração: 106 min | Classificação: 16 anos

Direção: David Gordon Green

Roteiro: David Gordon Green, Danny McBride e Jeff Fradley, baseado nos personagens criados por John Carpenter e Debra Hill

Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, James Jude Courtney, Nick Castle, Haluk Bilginer, Will Patton, Rhian Rees, Jefferson Hall, Toby Huss, Virginia Gardner, Dylan Arnold, Miles Robbins, Drew Scheid e Jibrail Nantambu (veja + no IMDb)

Distribuição: Universal Pictures

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