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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2018 | Dia 8 – Novas identidades

Atualizado: 17 de fev. de 2021


Mostra SP 2018 - Dia 8: Fuga | Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos | Almofada de Alfinetes | Fotos: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Fugindo, conscientemente ou não, de sua própria identidade, as protagonistas do polonês Fuga, do britânico Almofada de Alfinetes e o personagem central do luso-brasileiro Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos, às vezes, criam novas identidades nos destaques deste oitavo dia da 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, junto com outros filmes que recheiam a programação desta quinta que dá início à segunda semana do evento.

 

(Fugue, 2018)

Cena do filme polonês Fuga (2018) | Foto: Divulgação (Créditos: Jakub Kijowski / Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

A cineasta polonesa Agnieszka Smoczynska provocou as reações mais diversas com o seu primeiro longa A Atração (2015), um musical de sereias assassinas que esteve, inclusive, na 40ª Mostra. A cena de abertura de seu segundo filme, Fuga (2018), até recorda a estranheza de sua estreia, com uma mulher caminhando quase como um zumbi pelos trilhos do metrô e chocando os presentes na estação com o ato que toma ali. No entanto, o que vem a seguir é uma narrativa dita convencional na qual a diretora está mais preocupada em explorar a estranheza presente na aparente familiaridade dos relacionamentos familiares ou conjugais – como diz a música de Michelle Gurevich na trilha sonora, Lovers Are Strangers.

Para tanto, a realizadora e Gabriela Muskała, que roteiriza e protagoniza o filme, usam como representação a fuga dissociativa, uma espécie de amnésia de fundo psicológico, geralmente causada por algum stress pós-traumático, que faz a pessoa perder a memória sobre tudo aquilo que envolva a sua identidade, mas não necessariamente o conhecimento prático e básico adquirido previamente. Após aquele prólogo, passam-se dois anos e aquela mulher, já diferente no corte de cabelo e se identificando como Alicja, é objeto de estudo de psicólogos e psiquiatras que a encontraram nas ruas de Varsóvia. Porém, ao divulgarem seu caso na televisão, ela descobre sua identidade: Kinga, filha, esposa e mãe.

Poderia ser um drama ou um thriller como tantos outros que utilizam a amnésia como premissa para um melodrama ou suspense já conhecido. No entanto, Smoczynska percorre esses caminhos de modo reflexivo acerca desta mulher que abandonou os seus papéis de uma vida no ápice de sua infelicidade, sem buscar as mesmas saídas e com um controle narrativo muito consciente. O longa exibido na Semana da Crítica no Festival de Cannes possui, por exemplo, um desenho de som proposto a acentuar a confusão da mente da protagonista, enquanto ela começa a recordar algumas coisas de sua identidade anterior no meio das incertezas do que vive atualmente convivendo com o marido e o filho.

Menos ousado que seu début, mas com uma direção mais segura e precisa, Fuga apresenta a habilidade variada de Agnieszka e oferece a bagagem necessária para a cineasta ir a qualquer lugar ou voltar a experimentação de sua estreia com mais experiência para limar os excessos. De um jeito ou de outro, o público pode contar com a surpresa e a certeza de uma forte história feminina.

> Sesc Belenzinho – 25/10/2018 às 19h00

> Cinemateca – Sala BNDES – 28/10/2018 às 18h10

 

(Pin Cushion, 2017)

Cena do britânico Almofada de Alfinetes (2017) | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Filmando na própria cidade natal e colocando sentimentos autobiográficos em seu primeiro longa, a inglesa Deborah Haywood transforma esses aspectos pessoais em questões universais na sua estreia. Tendo como ponto de partida a mudança de uma mãe e sua filha para uma nova cidade, Almofada de Alfinetes (2017) se estabelece praticamente como um conto moral de duas verdades ambivalentes. Enquanto apresenta a relação de dependência até tóxica de Lyn (Joanna Scanlan) com sua cria Iona (Lily Newmark), também observa o mundo particular da adolescente que convivia harmoniosamente com sua figura materna e seu imaginário infantil desabando frente a uma sociedade que as corrompe.

Para isso, a produção britânica estabelece uma estilização e narrativa oníricas que recordam o australiano O Sonho de Greta (2015), ao mesmo tempo em que se diferenciam dele. De um lado, estão as sequências de alucinação que, no caso de Iona, revelam suas projeções de ser bem aceita pelas novas colegas, trocando a figura de sua mãe corcunda com suas roupas de tricô pela figura loira de uma mãe comissária de bordo. De outro, estão as caracterizações retrô na direção de arte e figurinos, que aqui se encontram em um contexto moderno diferente da ambientação realmente setentista do longa de Rosemary Myers.

O aspecto contemporâneo está estampado no celular que se transforma em ferramenta perversa do velho / novo bullying. Representado através da forma alegórica com que a obra se apresenta, ele vai minando até o tom do filme quando as crueldades e consequências dele se tornam cada vez mais reais, ao ponto de quase perder a mão. Ainda que a direção de Haywood não encontre uma coesão em sua efervescência tão adolescente quanto a de sua protagonista, é capaz de traçar um retrato peculiar da perda da inocência em seu coming of age.

Mais interessante ainda é como, por trás do arquétipo do trio de meninas populares e metidas da sala, utilizados a exaustão em filmes similares – do australiano citado ao já cult Meninas Malvadas (2004), passando até pelo brasileiro recente Tudo Por um Pop Star (2018) –, a cineasta lhes acrescenta camadas e aponta que, pelo menos, duas delas não estão confortáveis neste papel. Chelsea (Bethany Antonia) demonstra pelos olhares que apenas adotou a estratégia de humilhar para não ser humilhada, mas que sente a cobrança por isso, enquanto a queen bee Keeley (Sacha Cordy-Nice) confessa que gostaria de ir para um novo lugar e ser outra pessoa. É a afirmação que exterioriza o discurso central de Almofada de Alfinetes sobre as identidades que assumimos no decorrer da vida em cada comunidade que adentramos: família, escola, amigos, trabalho, namorado(a) e por aí vai na difícil tarefa de socializar.

> Cinesala – 25/10/2018 às 16h00

> Reserva Cultural – Sala 1 – 28/10/2018 às 15h40

 

(Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos, 2018)

Henrique Ihjãc Krahô no filme Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018) | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

A relação da fotógrafa Renée Nader Messora com o povo indígena Krahô vem desde 2009 e, quase dez anos depois, tem como principal fruto audiovisual o filme Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018). Rodado em 16mm durante nove meses que a brasileira e o codiretor português João Salaviza passaram sozinhos na aldeia Pedra Branca, localizada na Terra Indígena Krahô, no Tocantins, o longa atinge um nível de intimidade com a comunidade que borra os limites de ficção e registro documental no uso de não-atores indígenas e brancos para retratar o seu cotidiano, propondo uma ficcionalização a partir do conflito do jovem Ihjãc maior que a vista, por exemplo, no documentário Ex-Pajé (2018), de Luiz Bolognesi. Não por menos, a produção recebeu o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes, onde fez sua estreia mundial.

Tanto para a plateia estrangeira quanto para a nacional que tem a oportunidade de ver o filme agora na Mostra e, logo mais, no Festival do Rio, o primeiro ato serve ao registro antropológico dos costumes dos Krahô, enquanto acompanha as aflições de Ihjãc. O jovem ouve a voz do pai, morto há algum tempo, pedindo que façam finalmente a cerimônia do fim de seu luto para que possa partir em paz. Ele conversa sobre essa necessidade com a mãe, mas só para a mulher confessa o medo de que o enxerguem como um futuro pajé quando souberem que está ouvindo e vendo espíritos.

Um temor que aumenta quando o xamã fala que a arara é seu mestre e que ela o quer para assumir a função, e Ihjãc resolve fugir do animal e ficar longe da aldeia até as coisas se acalmarem. Para isso, vai até a cidade e insiste que está doente, dando origem ao segundo e melhor ato da obra, com a contraposição antropológica dos hábitos e tradições dos brancos, com o qual ele tem contato, e frases ótimas sobre a situação inusitada. Mesmo quando consegue fazer a cerimônia para demarcar o fim do luto pelo pai, o jovem que também tem um filho, o pequeno Tepto, ainda se sente angustiado por um destino que não deseja seguir, mas que parece persegui-lo.

> Cinearte Petrobras 1 – 25/10/2018 às 14h00

 

(Malila, 2017)

A cineasta trans Anucha Boonyawatana é precursora do que pode se chamar de cinema queer tailandês, abordando a temática LGBT desde o média-metragem Down the River (2004), e traz como último exemplar dele o seu segundo longa, Malila: A Flor do Adeus (2017). Tendo circulado por festivais internacionais, a produção foi selecionada como representante da Tailândia para disputar uma vaga no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mostrando a tentativa de recuperação de uma relação interrompida entre Shane (Sukollawat Kanaros) e Pitch (Anuchyd Sapanphong). O primeiro era casado, mas hoje amarga a perda trágica da filha e a separação da mulher, enquanto o segundo, que quis fugir enquanto mantinha um caso com ele, agora retorna doente.

O budismo aprece como parte presente da trama, desde a preparação dos Bai Sri, oferendas de flores utilizadas em rituais da religião, que serve de terapia contra o câncer para Pitch à ideia de superação da morte que faz Shane recorrer à obrigação local de que todo homem precisa ser monge por ao menos um ano. A bela fotografia de Chaiyapruek Chalermpornpanich abraça o tom poético do filme, entre a reflexão existencial e a alucinação quando Boonyawatana entra mais no terreno da selva sobrenatural do famoso compatriota Apichatpong Weerasethakul. Vermes surgem como metáforas de um amor que transcende os limites corporais, mas obrigam o espectador a estar muito conectado a sua narrativa para continuar nesta viagem, fazendo com que muitos se percam pelo caminho.

> MIS – Museu da Imagem e do Som – 25/10/2018 às 18h20

 

(The Miseducation of Cameron Post, 2018)

O vencedor do Grande Prêmio do Júri em ficção no Festival de Sundance deste ano é aquele exemplo de quando o contexto acaba ganhando mais pontos do que a ousadia e vigor estéticos e/ou narrativos na hora de escolher um título para premiar. Em si, O Mau Exemplo de Cameron Post (2018) é aquele filme correto em seus aspectos técnicos e com um bom elenco, que acaba chamando a atenção por tratar da polêmica “cura gay”. Baseado no livro homônimo de Emily M. Danforth, o segundo longa de Desiree Akhavan, responsável por Appropriate Behavior (2014) e séries que falam sobre sexualidade, tem como figura central de interesse uma instituição religiosa cristã que se apresenta quase como uma rehab para homossexuais, já que tratam orientação sexual como uma doença – aliás, nem citam direito o termo, tratando os “pacientes” como indivíduos com APMS, sigla para “atração por pessoas do mesmo sexo”.

A história ambientada em 1993 começa com a apresentação da adolescente Cameron Post (Chloë Grace Moretz) e seu relacionamento com a melhor amiga (Quinn Shephard), até que no dia do baile, o namorado (Dalton Harrod) pega as duas se beijando no carro e inicia o drama da protagonista, que é mandada pelos tios e responsáveis para este centro terapêutico controverso. Akhavan injeta um espírito juvenil em alguns momentos e certo humor em sequências como a da descrição do tal iceberg demonstrando como os colegas de tratamento foram parar lá ou nas falas totalmente errôneas e preconceituosas, para dar uma leveza para o que há de vir. Se, por exemplo, o sucesso one hit wonder daquele momento do 4 Non Blondes vem para aliviar o espectador ao mesmo tempo em que as letras de What’s Up? se encaixam perfeitamente àquela situação, a ótima cena é interrompida pela lembrança da coerção que deixará marcas irreparáveis para aqueles jovens.

Chloë está meio blasé até quase metade do longa, fazendo de sua Cameron uma adolescente desinteressada com o que está ao seu redor, mas aos poucos a crise começa a abater sua personagem e a atuação da atriz junto da empatia pela protagonista começam a crescer. No entanto, ela não sustenta o filme sozinha, sendo Sasha Lane e Forrest Goodluck ótimos como os amigos reticentes e rebeldes dentro do possível, Jane e Adam; Emily Skeggs – que parece uma irmã caçula da Carey Mulligan – dando ótimas nuances de conflito à colega de quarto Erin; assim como Owen Campbell faz com Mark em duas cenas-chave. Essa confusão interna também surge de maneira discreta na boa interpretação de John Gallagher Jr., como o Reverendo Rick, o primeiro “convertido” pela sua irmã terapeuta (Jennifer Ehle) e que contradiz no olhar o que fala para os internos.

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 25/10/2018 às 17h30

 

(Lean on Pete, 2017)

Há uma América diferente, aquela que não quer ser vista pelos próprios norte-americanos e que é destacada pelo olhar estrangeiro do britânico Andrew Haigh em A Rota Selvagem (2017). Presente na seleção do Festival de Toronto do ano passado, o longa mais recente do diretor de 45 Anos (2015) aproxima o seu foco dos Charleys que coexistem ao redor deles – e de nós também – e não se dá conta. O garoto do filme é vivido por Charlie Plummer – que não é parente do Christopher Plummer –, cujo tour de force que internaliza com naturalismo no protagonista é a principal qualidade e atrativo da produção.

Adaptando o romance Leon on Pete (2010) de Willy Vlautin, Haigh gasta um bom tempo contextualizando a relação de Charley com o pai (Travis Fimmel) e com o cavalo Leon on Pete, que conhece ao começar a trabalhar com Del (Steve Buscemi) que treina cavalos de corrida. Várias desventuras na primeira metade da história farão o adolescente de apenas 15 anos partir de Portland para o estado de Wyoming em busca de sua tia (Alison Elliott), com que estabeleceu algum vínculo materno durante a sua infância. O que não quer dizer que outras não ocorrem na segunda parte, quando o que parece ser um tradicional drama de cavalos se torna também um road movie e a narrativa já sofre com a longa duração do que seria um filme por si só em sua primeira hora.

A obra possui igualmente toques de um faroeste desolador, com as paisagens descampadas belamente fotografadas por Magnus Nordenhof Jønck, e especialmente um coming of age. A transformação para uma vida adulta aqui vem de maneira precoce e através do sofrimento, que vão aos poucos recrudescendo o garoto, enquanto ele luta pela sobrevivência e daqueles que ama em quase um conto de amadurecimento. No entanto, sem sempre conseguir salvá-los ou a si próprio de um mundo egoísta e mau, acumula perdas que fazem alguns espectadores se questionarem se o cineasta apenas chega perto ou ultrapassa o limite da exploração da miséria.

> Espaço Itaú Augusta 1 – 25/10/2018 às 16h00

> Cine Caixa Belas Artes – Sala 1 Villa Lobos – 26/10/2018 às 18h00

> Sesc Osasco – Tenda – 26/10/2018 às 20h00

> Espaço Itaú Frei Caneca 2 – 28/10/2018 às 18h50

> Reserva Cultural – Sala 1 – 29/10/2018 às 21h00

> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 31/10/2018 às 19h30

 

(Tlmočník / Dolmetscher, 2018)

De modo geral, crescemos acostumados a ver o nazismo pela lente de Hollywood até mais do que pelos olhos da própria Alemanha. Mas alguns cinéfilos devem ter reparado uma tendência atual do cinema de outros países europeus, especialmente do Leste Europeu, de revisitar o período de ocupação nazista em seu território, a exemplo do polonês Ida (2013), e examinar sua parcela de culpa nos males causados por eles, como o húngaro 1945 (2017) e o austríaco A Valsa de Waldheim (2018), documentário também presente nesta Mostra. Representante da Eslováquia nesta 42ª edição do evento e também na corrida para uma possível vaga entre os indicados a Melhor Filme Estrangeiro no próximo Oscar, o novo longa de Martin Šulík, O Intérprete (2018), vem fazer isso para a nação que, na época e até 1992, fazia parte da Tchecoslováquia.

O cineasta eslovaco, um velho conhecido dos mostreiros, trata do assunto ao juntar as duas pontas da problemática. Ali Ungár (Jirí Menzel, ator e diretor que conseguiu um Oscar para a Tchecoslováquia com Trens Estreitamente Vigiados, de 1966), um intérprete de 80 anos de idade, viaja para Viena, na Áustria, atrás do ex-oficial da SS, o exército nazista, que acredita ser o responsável pela morte de seus pais, mas ao bater na sua porta, encontra apenas o filho do provável algoz de sua família, Georg (Peter Simonischek, o pai do longa alemão Toni Erdmann, de 2016). Este, porém, vai à Bratislava, capital da Eslováquia, pedir ao senhor de origem judia para ser seu guia e intérprete em uma viagem pelo país para explorar os lugares nos quais o pai ficou durante a II Guerra Mundial.

Diferente da trilha sonora com o mesmo arranjo repetido insistentemente, o filme varia seu tom entre o drama e a comédia ao tirar humor de uma narrativa da relação entre opostos bem comum, no caso, de senhor comedido, correto e sério com um bon-vivant, mulherengo e desinteressado por sua própria história, até então. No entanto, conforme a câmera de Šulík vai, em alguns momentos, se aproximando lentamente dos personagens em travellings, o texto do roteiro escrito por ele e Marek Leščák faz o mesmo não partir para algo de mau gosto que poderia vir ao tratar tal assunto de maneira tão leviana. Com exceção de uma revelação final que soa desnecessária, a obra trata de maneira sincera sobre a velhice, investiga como a relação dos dois protagonistas – vividos em oposta sintonia por Menzel e Simonischek em grande forma – molda o relacionamento deles com os filhos e confere camadas de complexidade aos envolvidos, mesmo que indiretamente, no nazismo, mas tentando evitar a armadilha de comparar e tornar equivalentes as dores do filho das vítimas com o do filho do assassino. Ambos sofrem, mas de modo diferente e é preciso cada um dos lados entender isso.

> Cine Caixa Belas Artes – 25/10/2018 às 17h40

> Cinearte Petrobras 1 – 30/10/2018 às 20h50

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