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Foto do escritorNayara Reynaud

O RETORNO DO HERÓI | Uma comédia de épocas

Atualizado: 13 de fev. de 2021


Jean Dujardin e Mélanie Laurent em O Retorno do Herói (2018) | Foto: Divulgação

Se a História se repete, já diria Hegel, as histórias ficcionais se repetem mais ainda em novas roupagens para falarem sobre os mesmos erros humanos, repetidos a exaustão. A trama do francês O Retorno do Herói (2018), de Laurent Tirard, não é diferente de tantas outras histórias de impostores e/ou mitificações em muitos clássicos do teatro, filmes e até novelas daqui. No entanto, a ideia de que as pessoas criam uma imagem de si mesmas ou assumem aquela que outros lhe encarregam nunca ficou fora de moda e, ainda que não haja frescor nos meandros desta comédia de época – não só na ambientação histórica, mas em sua forma classicista –, ela transcende para os tempos atuais como um comentário sobre o comportamento dos indivíduos nas redes sociais.

Esse classicismo, porém, é intencional no cinema de Laurent Tirard, que gosta deste deslocamento temporal para desassociar sua narrativa do realismo, enquanto continua abordando temas reais. Mais conhecido aqui pelos longas O Pequeno Nicolau (2009) e As Aventuras de Molière (2007), além de trabalhos mais irregulares como Astérix e Obélix: A Serviço de sua Majestade (2012), o cineasta que sempre primou pelo caminho cômico, agora se inspira nas comédias de aventuras, comuns no cinema francês de anos atrás. Admite, porém, mesclá-las com outra influência, estampada no próprio nome da protagonista: de Jane Austen, não empresta apenas o Elizabeth de sua mais famosa heroína, como a força da personagem de Orgulho e Preconceito, a sagacidade de uma Lady Susan e outros elementos das mulheres criadas pela autora para compor a figura encarnada na tela por Mélanie Laurent.

Contemporânea à escritora, na história que se inicia na Borgonha de 1809, sua Elisabeth Beaugrand não aguenta ver a dor da irmã Pauline (Noémie Merlant), sofrendo pela partida e falta de contato de seu noivo, o capitão Neuville (Jean Dujardin), que precisou partir para mais Guerras Napoleônicas. Decide, então, escrever uma carta em nome do amado desaparecido para apaziguar o coração da caçula. A primeira missiva falsa dá origem a outras, em que ela o “manda” para a Índia, descrevendo várias de suas aventuras e transformando a figura de Neuville em um herói, até dar um destino final para ele. Mas poucos minutos do longa se decorreram com tudo isso e a virada do segundo ato reserva a volta do militar, agora, desertor para complicar a vida da autora de sua biografia aumentada e agitar a rotina dos Beaugrand e de toda a cidade.

A farsa dos personagens também é estrutural nesta narrativa farsesca que traça, por vezes, paralelos diretos com a atualidade. Exemplo claro está no esquema de pirâmide adotado pelo malandro Neuville remetendo às ações de Bernie Madoff que iniciaram a crise econômica nos Estados Unidos e mundialmente, em 2008. O mesmo acontece, de maneira mais diluída, em Elisabeth, que pode soar um pouco anacrônica em alguns momentos com o seu feminismo além da época – ao que parece, intencionalmente por parte de Tirard –, mas Laurent a conduz com uma acidez que a torna doce, estabelecendo uma troca de farpas com Dujardin que é a força motriz e o charme do filme e, igualmente, a sua armadilha.

 

O Retorno do Herói (Le Retour du Héros, 2018)

Duração: 90 min | Classificação: 14 anos

Direção: Laurent Tirard

Roteiro: Laurent Tirard e Grégoire Vigneron

Elenco: Jean Dujardin, Mélanie Laurent, Noémie Merlant, Christophe Montenez, Evelyne Buyle, Christian Bujeau e Féodor Atkine (veja + no IMDb)

Distribuição: A2 Filmes / Mares Filmes

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