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  • Foto do escritorNayara Reynaud

UMA QUESTÃO PESSOAL | Soldado do Amor

Atualizado: 13 de fev. de 2021


Luca Marinelli em Uma Questão Pessoal (2017) | Foto: Divulgação (Supo Mungam)

Tal qual seu título, é Uma Questão Pessoal (2017) que primeiro atrai o público a assisti-lo, justamente por ser o último filme com a assinatura dos irmãos Taviani. Vittorio Taviani, que aqui assina o roteiro junto com o diretor Paolo, faleceu em abril passado, deixando junto com o irmão um legado de clássicos do cinema italiano como Pai Patrão (1977), A Noite de São Lourenço (1982) e César Deve Morrer (2012). O trabalho final deles enquanto dupla não tem a grandiosidade do anterior, a antologia de elenco estelar e resultado irregular Maravilhoso Boccaccio (2015), mas guarda a sua ode ao amor, ainda que de maneira mais sofrida e guardando as dúvidas que perseguem seus protagonistas desde os primeiros longas.

No caso, o retrato individual pinta que, mesmo em meio a graves problemas de grande escala, a mente humana se prende mesmo às pequenas questões pessoais que afligem cada um. Assim, traçam o paralelo entre o drama de Milton (Luca Marinelli, de Meu Nome é Jeeg Robot, de 2015) com o drama nacional, ao acompanhar as aflições do rapaz, membro da Resistência, que reunia jovens estudantes e camponeses italianos contra o fascismo de Mussolini nos anos finais da II Guerra Mundial. Depois de adaptar à própria maneira nomes clássicos como Shakespeare e Boccaccio, os irmãos Taviani partem para um sucesso literário nacional mais moderno, com um olhar quase minimalista para Uma Questão Pessoal (1963) de Beppe Fenoglio, na produção que já rodou pelo Festival de Toronto e na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo no ano passado, além da última 8 ½ Festa do Cinema Italiano.

No norte da Itália, Milton recorda de sua amada Fulvia (Valentina Bellè, das séries Medici: Masters of Florence, de 2016, e Grand Hotel, de 2015) – cujo retrato tão bipolar pode afastar alguns espectadores – ao passar em frente à mansão onde passou tardes de músicas e literatura com ela, que fora se refugiar em Turim quando a população local passou a lutar na Resistência. A lembrança e as palavras da criada (Antonella Attili, de Cinema Paradiso, de 1988) sobre o possível envolvimento da jovem com seu amigo Giorgio (Lorenzo Richelmy, estrela da série Marco Polo, de 2014-16), porém, tiram o soldado de seu prumo. Apaixonado, entre a angústia e o ciúme de saber que sua bela musa pode amar outro e o dever de combater os inimigos, ele sai pela região à procura de Giorgio e, depois de dizerem que ele foi pego por fascistas, por algum prisioneiro adversário para trocar pelo rapaz. O público então acompanha Milton, adivinhando suas motivações: ele quer salvar o colega de luta pela amizade, pela Resistência ou pela amada que precisa dele ou apenas deseja confrontar o seu adversário no campo de batalha do amor e questioná-lo sobre a verdade.

Quando, logo no início, o som de Somewhere Over The Rainbow remete a memórias de tempos mais doces – assim como a canção também carrega a esperança um paraíso depois daquele inferno do conflito mundial e civil que ali se instalava –, marca de fato a dicotomia do filme entre o romantismo que o move e os horrores da guerra que o cerca. Há, pontualmente, a questão pessoal do comandante que conhecia os adolescentes presos, seus pais e irmãos, mas tinha que cumprir o dever, enquanto autoridade de um Estado fascista, de exterminá-los. E, embora um pouco desconectada do todo, a cena da menina com a família massacrada entrega a mensagem antibélica desejada pelos cineastas.

Os Taviani são mais eficientes com o uso narrativo da neblina da região: se existe algo de fantasmagórico nela e que se comunica com o cenário e as dores da época, há a metáfora deste nevoeiro intenso que cega o protagonista dos outros problemas a não ser o próprio. No ápice da dor, este Soldado do Amor, como um dia cantou Cartola, prefere ser estraçalhados por tiros inimigos a perder a amada, como qualquer um acometido pelo mal da paixão. O final pode parecer frustrante para quem quer saber das questões coletivas ou dos envolvidos nesta particular, mas Uma Questão Pessoal se encerra fiel a sua proposta.

 

Uma Questão Pessoal (Una Questione Privata, 2017)

Duração: 84 min | Classificação: 14 anos

Direção: Paolo Taviani

Roteiro: Paolo Taviani e Vittorio Taviani, baseado no livro “Uma Questão Pessoal” de Beppe Fenoglio

Elenco: Luca Marinelli, Lorenzo Richelmy, Valentina Bellè, Francesca Agostini, Jacopo Olmo Antinori, Antonella Attili, Giulio Beranek e Mario Bois (veja + no IMDb)

Distribuição: Supo Mungam Films

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