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  • Foto do escritorNayara Reynaud

8 ½ FESTA DO CINEMA ITALIANO | Os números à espera de sua fortuna

Atualizado: 27 de dez. de 2020


Jasmine Trinca e Nicole Centanni em Fortunata (2017) | Foto: Divulgação (8 ½ Festa do Cinema Italiano)

Tendo a ironia desde o seu título, que carrega o mesmo nome de sua protagonista, Fortunata (2017), o filme que abriu esta 8 ½ Festa do Cinema Italiano de 2018 é justamente daquele tipo no qual a ideia de que “vai dar ruim” volta e meia surge na cabeça do espectador enquanto assiste a trajetória dos personagens. A sorte contida no significado da palavra/nome em italiano, porém, está na obra em ter, justamente como intérprete de Fortunata, a atriz Jasmine Trinca que, pelo papel, foi premiada na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes do ano passado. Depois de já trabalhar com ela em Ninguém é Salvo Sozinho (2015), Sergio Castellitto tem na performance poderosa de sua estrela a força que resiste às fraquezas de seu novo longa.

O prolífico ator que se tornou também diretor, com trabalhos como Prova de Redenção (2012) e Não Se Mova (2004), cita Mama Roma (1962) de Pier Paolo Pasolini como influência em seu retrato da classe trabalhadora e periférica romana, mas o seu registro está longe do neorrealismo que marcou aquele período do cinema italiano. Novamente ao lado da roteirista e esposa Margaret Mazzantini, traz o bairro de Torpignattara e sua grande população de imigrantes como cenário de uma nova Itália. Com sua câmera sempre deslizando em steady cams e travellings, tal qual os personagens se virando em meio às dificuldades, Castellitto demonstra, às vezes, um grande carinho por seus personagens, mas, em outros momentos, parece ter um fetiche pela tragédia que ronda a pobreza.

Fortunata (Trinca) é uma cabelereira que atende em domicílio e está sempre correndo, sem tempo para parar, nem para pensar, pois isso significa perder o dinheiro que fará falta no final do mês, seja para pagar o aluguel ou financiar o seu sonho de abrir o próprio salão. Isso porque, em vez de receber apoio do ex-marido (Edoardo Pesce) para cuidar da pequena Barbara (Nicole Centanni), o guarda Franco, que não aceita o divórcio, lhe agride verbal, física e sexualmente. Seu amigo de infância Chicano (Alessandro Borghi) até tenta lhe ajudar, mas também tem seus próprios problemas, como sua bipolaridade e a mãe (a atriz alemã Hanna Schygulla, musa de Rainer Werner Fassbinder) já em um estado avançado de Alzheimer. Não é de se espantar que a filha de oito anos esteja apresentando um comportamento agressivo na escola, fazendo com que algo equivalente ao conselho tutelar exigisse que a menina fosse à terapia e o psicólogo Patrizio (Stefano Accorsi) adentrasse e agitasse ainda mais a vida delas.

Deixando escancarado nas falas da atriz cuja memória só lembra das falas de Antígona e na explicação do filho Chicano, o diretor constrói uma tragédia grega em um subúrbio italiano em pleno verão, o que significa fazer um melodrama com uma fotografia solar, assinada por Gian Filippo Corticelli, e personagens quentes, quase derretendo exterior e interiormente. Figuras que são os próprios números esquecidos da loteria que o rapaz de cabelos compridos fala, que tentam encontrar sua sorte em uma vida de azar, e mesmo assim seguem a sua vida. Essa é a intenção de Castellitto ao imprimir certa leveza na sua direção, mas certas quebras narrativas e da trilha pop norte-americana, que vai de The Cure a Creedence Clearwater Revival, nem sempre geram o alívio cômico idealizado, especialmente quando o roteiro começa a se atropelar da metade para frente da trama, em situações pintadas em tintas fortes.

Não conseguindo equilibrar o tom, diluindo construções dramáticas em sua escalada trágica ou momentos de feel good movie, o filme sustenta na interpretação de Trinca sua essência. Com a excelente fala “Eu sou mãe, é claro que sou uma masoquista!”, Fortunata é um retrato de uma maternidade em desenvolvimento, prejudicada quando a base familiar não é sólida e guarda seus traumas e/ou a estrutura formada por ela também é fragilizada pela violência doméstica, mas que segue lutando para dar o seu melhor.

 

Fortunata (Fortunata, 2017)

Duração: 103 min | Classificação: 16 anos

Direção: Sergio Castellitto

Roteiro: Margaret Mazzantini

Elenco: Jasmine Trinca, Stefano Accorsi, Alessandro Borghi, Edoardo Pesce, Nicole Centanni e Hanna Schygulla (veja + no IMDb)

> Cine São Luiz / Recife – 04/08/2018 às 15h00

> Espaço Itaú Glauber Rocha / Salvador – 04/08/2018 às 15h30

> Cine Líbero Luxardo / Belém – 04/08/2018 às 16h00

> Cine Belas Artes / Belo Horizonte – 04/08/2018 às 16h20

> Cine Show – Beiramar Shopping / Florianópolis – 04/08/2018 às 16h20

> Espaço Itaú Augusta / São Paulo – 04/08/2018 às 16h20

> Espaço Itaú Botafogo / Rio de Janeiro – 04/08/2018 às 16h20

> Espaço Itaú Bourbon Country / Porto Alegre – 04/08/2018 às 16h20

> Espaço Itaú Casa Park / Brasília – 04/08/2018 às 16h20

> Espaço Itaú Crystal / Curitiba – 04/08/2018 às 16h20

> Lumière Cinema – Shopping Bougainville / Goiânia – 04/08/2018 às 16h20

> Cine Jardins / Vitória – 04/08/2018 às 17h00

> Espaço Itaú Glauber Rocha / Salvador – 06/08/2018 às 13h00

> Cine Belas Artes / Belo Horizonte – 06/08/2018 às 14h00

> Cine Show – Beiramar Shopping / Florianópolis – 06/08/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Augusta / São Paulo – 06/08/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Botafogo / Rio de Janeiro – 06/08/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Bourbon Country / Porto Alegre – 06/08/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Casa Park / Brasília – 06/08/2018 às 14h00

> Espaço Itaú Crystal / Curitiba – 06/08/2018 às 14h00

> Lumière Cinema – Shopping Bougainville / Goiânia – 06/08/2018 às 14h00

> Cine Jardins / Vitória – 06/08/2018 às 14h50

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