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  • Foto do escritorNayara Reynaud

UMA QUASE DUPLA | Quase equilibrando a balança

Atualizado: 18 de out. de 2020


Cauã Reymond e Tatá Werneck em cena da comédia brasileira Uma Quase Dupla (2018), de Marcus Baldini | Foto: Divulgação (Créditos: Serendipity Inc)

Gênero mais forte comercialmente da produção cinematográfica do país e, igualmente, o que gera mais preconceito deste mesmo público – erroneamente – sobre todo o cinema brasileiro, a comédia tem muitas vertentes que, apesar de serem exploradas pelos comediantes daqui no teatro e na televisão, são relegadas nas telonas. Uma Quase Dupla (2018), novo longa de Marcus Baldini, é uma daquelas tentativas ocasionais de explorar um terreno diferente do estilo ou filão que marca as comédias nacionais.

Estrelado por Tatá Werneck e Cauã Reymond, o filme segue a tônica do subgênero de duplas de opostos comum dentro das comédias policias hollywoodianas, vide As Bem-Armadas (2013) e Um Espião e Meio (2016), ficando em exemplos recentes. Já a trilha sonora, remete às séries “enlatadas” norte-americanas policiais dos anos 1970, como Kojak (1973-78) – citada pelo próprio diretor em coletiva de imprensa em São Paulo, no último dia 4 –, Starsky & Hutch - Justiça em Dobro (1975-79) e CHiPs (1977-83), enquanto faz algumas boas piadas musicais com canções e versões nacionais.

Há, no entanto, uma bem-vinda mudança de rumo no roteiro de Leandro Muniz e Ana Reber, com colaboração da própria atriz principal, Daniel Furlan – também no elenco como o arruaceiro Dado – e Fernando Fraiha. Contrariando estereótipos de gêneros e da própria imagem que cerca os atores, Tatá é a policial durona e inteligente Keila, embora de métodos estranhos, que vem do Rio de Janeiro, enquanto Cauã é o subdelegado sensível e devagar Claudio, tão pacato quanto a pequena cidade de Joinlândia, que é surpreendida com um caso de assassinato macabro, que se torna uma série deles. Como já é de se esperar, os dois precisarão juntar forças, apesar das diferenças, para descobrir quem é o serial killer em questão, mas o filme apresenta certa dificuldade em equilibrar estes e outros opostos, embora o encontro tenha sido frutífero nos bastidores.

A produtora Bianca Villar, que já havia trabalhado com a Werneck em TOC: Transtornada Obsessiva Compulsiva (2017) e, Reymond em Reza a Lenda (2016), propôs ao ator esta dupla inusitada, que ambos toparam fazer acontecer e que foi um aprendizado para eles. “Eu aprendi muito mesmo com o processo de trabalho do Cauã, porque a gente tem processos muito opostos, mas que não deixam de se complementar; porque o Cauã é um cara muito disciplinado, muito higienizado... (risos)”, declarou a atriz aos jornalistas, entre suas usuais brincadeiras, explicando ter levado muito do que aprendeu sobre posicionamento de câmera com o colega de cena, algo visível para a equipe que trabalha com ela na novela Deus Salve o Rei (2018). Já o ator, retribuiu os elogios, dizendo também ter observado muito a habilidade com o improviso dela.

Segundo Cauã, “Queime Depois de Ler (2008) foi sim uma inspiração, até para o Baldini” no caminho dessa “suspen-média, uma comédia com suspense”, como afirma o diretor, mas que se mostra um pouco irregular. Alguns indícios das razões para isso estão nas próprias declarações deles. Quando o astro conta que, no início, a ideia era fazer mais uma comédia de humor negro, mas o projeto foi indo para algo mais familiar – a classificação indicativa é de 12 anos – ou quando o cineasta afirma tentar “levar o filme, a história um pouco a sério e o non-sense vir mais da interpretação”, é possível perceber o desencontro de intenções e rumos a seguir durante a concepção do filme. Por isso, por mais que quem goste do tipo de humor da Tatá Werneck não consiga segurar a risada em alguns momentos, a direção de Baldini não consegue aproveitar esse potencial cômico e prosseguir com ele ou encaixar de maneira mais orgânica o estilo da comediante no que se propõe com o resto do elenco e da trama, até porque não é eficiente totalmente com isso também.

Tatá e Cauã falaram na coletiva que, em uma versão anterior do roteiro, ficava óbvio quem era o assassino e isso foi modificado. No produto final, outras opções chamam mais a atenção do espectador em um elenco de coadjuvantes que, além de Furlan, traz Ary França como o delegado Moacyr, Alejandro Claveaux como o legista Augusto, Gabriel Godoy como o policial Cesinha e Augusto Madeira como o vizinho André – porém, sem qualquer demérito, quem já tem certa experiência com roteiros policiais ou reviravoltas narrativas, passa a desconfiar no decorrer do longa. O problema é que, nesse jogo, alguns personagens e seus atores são utilizados apenas para o blefe e desperdiçados em seu potencial, assim como o filme fica sempre no “quase” do seu título naquilo que promete ou poderia ser.

Daniel Furlan, Alejandro Claveaux, Marcus Baldini, Tatá Werneck, Cauã Reymond e Bianca Villar na coletiva de imprensa do filme Uma Quase Dupla (2018) | Foto: Nayara Reynaud

Daniel Furlan, Alejandro Claveaux, Marcus Baldini, Tatá Werneck, Cauã Reymond e Bianca Villar na coletiva de imprensa do filme Uma Quase Dupla (2018)

 

Uma Quase Dupla (2018)

Duração: 90 min | Classificação: 12 anos

Direção: Marcus Baldini

Roteiro: Leandro Muniz e Ana Reber, com colaboração de Tatá Werneck, Daniel Furlan e Fernando Fraiha

Elenco: Tatá Werneck, Cauã Reymond, Valentina Bandeira, Louise Cardoso, Alejandro Claveaux, Ary França, Daniel Furlan, Gabriel Godoy, Ilana Kaplan, Augusto Madeira, Caito Mainier, Pedroca Monteiro, Luciana Paes, George Sauma e Priscila Steinman (veja + no IMDb)

Distribuição: Paris Filmes

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