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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O ORGULHO | Os dilemas desta nova França

Atualizado: 18 de out. de 2020


Camélia Jordana e Daniel Auteuil em cena do filme francês O Orgulho (2017), de Yvan Attal | Foto: Divulgação (Pandora Filmes)

*Filme assistido online durante o Festival Varilux de Cinema Francês 2018

Naqueles acasos do destino, já que a produção é do ano passado e foi exibido há pouco tempo no Brasil no Festival Varilux de Cinema Francês 2018, a estreia de O Orgulho (2017) no circuito justamente na semana após a vitória da França na Copa do Mundo da Rússia vem a calhar. A Seleção Nacional de Futebol campeã representa este novo país miscigenado, repleta de filhos ou eles mesmos imigrantes de ex-colônias francesas na África, geralmente moradores da periferia de Paris ou outros grandes centros urbanos, como a protagonista do filme de Yvan Attal. O próprio diretor e também ator é exemplo disso: natural de Israel, de pais judeus-argelinos, ele cresceu em um destes subúrbios parisienses e vive na capital até hoje, onde se casou com Charlotte Gainsbourg e teve três filhos.

Voltando ao seu filme, quem o público conhece logo na primeira cena é Neïla Salah (a atriz e também cantora Camélia Jordana) que vem de uma longa viagem de metrô para o seu primeiro dia de aula em uma das mais prestigiadas universidades de Paris. Mas a caloura da faculdade de Direito já se depara com o preconceito velado ao pôr os pés na instituição, quando o porteiro só pede à estudante de origem árabe e periférica sua identidade escolar e os outros entram indiscriminadamente. No entanto, ela é confrontada diretamente com a intolerância ao adentrar a sala de aula e o professor Pierre Mazard (Daniel Auteuil) aproveitar o atraso da nova aluna para destilar seus comentários racistas. A discussão logo é registrada por vários colegas de turma e viraliza nas redes sociais, além de servir de motor para toda a trama.

Por conta da repercussão, o reitor (Nicolas Vaude) obriga o renomado e controverso docente a preparar a estudante em questão para o famoso concurso nacional de oratória, a fim de aplacar a imagem negativa. Tal impressão, porém, não recai totalmente sobre o personagem, pois Auteuil é muito hábil em torná-lo suficientemente empático ao público, para não rejeitá-lo logo de início, apesar dos absurdos que fala. Depois, a narrativa faz questão de encaminhá-lo para uma posição de Pigmaleão, que irá transformar a garota, ainda que ao final, esta curva seja apressada, tanto no relacionamento entre mestre e aprendiz ou no próprio acompanhamento da competição e sua preparação.

Neïla e Pierre servem como aquela já conhecida representação do choque de ideias entre o velho e o novo, embora a jovem também enfrente ela mesma o dilema de associar seus novos conhecimentos e realidade aos antigos amigos, especialmente o vizinho Mounir (Yasin Houicha), e vida na periferia ao voltar para casa, onde mora com a mãe e convive com a avó. A interpretação de Jordana, artista representante da nova música francesa e premiada com um César de Atriz Revelação pelo papel, contém toda a impetuosidade da personagem, em um misto de inteligência, petulância e persistência que faz seu professor rever os seus conceitos, sem que admita isso. É justamente a atuação da dupla de atores e, em parte, a direção que fazem os protagonistas não caírem nas caricaturas que poderiam surgir neste caminho entre a comédia e o drama que o longa trilha.

Diretor de um segmento em Nova York, Eu Te Amo (2008) e Ma Femme Est Une Actrice (2001), entre outros trabalhos, Attal se rende às fórmulas de filmes de competição e mestre/aprendiz, não entregando tudo que a abertura pungente promete. Mais que isso, essas escolhas sufocam e simplificam questões muito complexas e caras a essa França polarizada, que vê o crescimento político da extrema direita, enquanto a entrada cada vez maior de imigrantes ou refugiados transforma a nação, demográfica, econômica, social e culturalmente. Ao mesmo tempo, este cenário conturbado faz com que a mensagem de tolerância de O Orgulho, apesar de simplista, seja bem-vinda ao público de lá e daqui.

 

O Orgulho (Le Brio, 2017)

Duração: 95 min | Classificação: 12 anos

Direção: Yvan Attal

Roteiro: Victor Saint Macary, Yaël Langmann, Yvan Attal e Noé Debré

Elenco: Camélia Jordana, Daniel Auteuil, Yasin Houicha, Nozha Khouadra, Nicolas Vaude, Jean-Baptiste Lafarge, Virgil Leclaire, Zohra Benali e Damien Zanoli (veja + no IMDb)

Distribuição: Pandora Filmes

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