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Foto do escritorNayara Reynaud

LOLLA BR 2018 | Dia 1 - Peppers, sintetizadores e Marielle presentes

Atualizado: 12 de ago. de 2020

Em um dia de forte seleção de artistas brasileiros no lineup e nomes internacionais que se tornaram gratas descobertas para a maioria do público, o Red Hot Chili Peppers continuaram sendo o grande burburinho da primeira noite do Lollapalooza Brasil 2018. Mas a abertura do festival também ficou marcada pela presença dos sintetizadores em alguns números e pelo coro de "Marielle Presente" por parte de algumas bandas nacionais em homenagem à vereadora carioca, assassinada no último dia 14 de março, além da caminhada reduzida graças à mudança do Palco Axe quase ao lado do Palco Ônix.

Veja os destaques e impressões desta sexta no Lolla BR no início da cobertura do NERVOS no festival:

 

A banda potiguar Plutão Já Foi Planeta no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"A ausência deixa a casa em dormência / E a cabeça não pensa / Nem o corpo dorme / Se você não está"

Sem conseguir chegar a tempo de conferir o rock psicodélico, sessentista repaginado, dos amazonenses do Luneta Mágica – vale ouvir seus discos, especialmente o segundo álbum – e passando direto pelo início da apresentação dos cearenses da Selvagens à Procura de Lei – que fez um excelente show na edição 2014 do Lollapalooza, diga-se de passagem –, o pontapé inicial da cobertura ficou com os potiguares do Plutão Já Foi Planeta. A intenção era ver ao vivo a banda de Natal, no Rio Grande do Norte, que ficou conhecida nacionalmente através do programa Superstar (2014-16), mostrando suas músicas autorais no reality show de grupos musicais, produzido pela Globo.

O indie pop de sotaque nordestino na doce voz de Natália Noronha cativa entre reminiscências das canções mais alegres do Los Hermanos e, especialmente do Little Joy do Rodrigo Amarante, quando a vocalista empunha o violão em canções como Mesa 16; ou nesse revival oitentista buscado por bandas do final da década passada, a exemplo da influência do Bombay Bicycle Club e dos curitibanos do Copacabana Club, e recentemente pelo Paramore no seu último álbum, After Laughter (2017), quando ela toca o teclado em Você não é mais planeta, por exemplo. Em Insone, que originalmente tem a presença de Liniker, entrou o hip hop com o rapper Rashid, clamando, em sua rima improvisada, "Marielle Presente". Além disso, Natália, que em seu teclado, tinha uma camiseta com a estampa "GRL RWR", também exaltou esse girl power no lineup deste Lolla, citando alguns nomes nacionais e internacionais e pedindo para os festivais prestarem atenção a isso.

 

A banda mato-grossense Vanguart no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Só acredito no semáforo / Só acredito no avião / Eu acredito no relógio / Acredito no coração"

Com um setlist reduzido devido ao horário, o Vanguart viajou rapidamente pelo seu repertório, passeando por músicas dos quatro álbuns e já pedindo desculpas antecipadamente pelas canções que ficariam de fora – no caso desta jornalista, a falta sentida pessoalmente foi da incrível versão deles de O Mar, de Dorival Caymmi. Com os fãs calorosos à frente e muitos assistindo passivamente, sentados atrás, os mato-grossenses que, há mais de 10 anos, surpreendeu o cenário rock e pop com sua influência folk, até mesmo antes do gênero ter uma grande retomada mundial, a banda também sofreu um pouco com o som e ajustes dos instrumentos, pelo que soava ali de perto. Mas nada que prejudicasse a experiência e que não convidasse depois, um público maior a ouvi-los na parte final da apresentação, com o hit Meu Sol e o o seu clássico Semáforo.

Nos intervalos entre as músicas, o vocalista Helio Flanders também falava à plateia sobre a importância de prestigiar bandas brasileiras e de incentivar às artes e produzi-las. Além disso, a banda também entoou o coro de "Marielle Presente", colocando os dizeres e uma imagem da vereadora no telão,enquanto tocavam ... Das Lágrimas – ao que parece, o rapper Rincon Sapiência também lembrou do caso em seu show.

 

A cantora paulistana Mallu Magalhães no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Nem vem tirar / Meu riso frouxo com algum conselho"

Definitivamente, Mallu Magalhães estava com um riso frouxo neste Lollapalooza 2018 e não à toa. A carinhosa recepção do público surpreendeu a cantora e compositora, deixando-a confiante como nunca no palco, apesar de sua habitual timidez. A artista que já tinha se apresentado no festival com a Banda do Mar, na edição de 2015, dançou, sambou e rebolou à plateia, a quem agradeceu pela presença e o carinho. Ela os presenteou com sua nova MPB, que vai do samba a um som setentista, além de levantar a todos cantando Mais Ninguém, canção justamente do seu projeto junto com o marido Marcelo Camelo e o português Fred Pinto Ferreira.

 

A banda dinamarquesa Volbeat no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"But I got my pocket full of real tales, and a broken guitar mode / And the story keep on rollin', out from a sad man's tongue"

Talvez, considerando que a nossa cobertura não esteve presente em todos os shows, o Volbeat tenha sido a principal surpresa deste primeiro dia de Lolla. A interessante mistura entre de metal e rockabilly dos dinamarqueses é única ao utilizar o peso do primeiro gênero das guitarras e bateria pesada, mas manter uma estrutura melódica mais próxima do segundo. É uma ótima introdução a quem não curte metal e/ou tem preconceito pelos seus estereótipos.

A voz de Michael Poulsen também ajuda a envolver a plateia que desconhecia seu trabalho, embora o público embaixo da área do Palco ônix estivesse a todo vapor, cantando todas as músicas e fazendo até as primeiras rodinhas. Teve espaço até para um cover de Johnny Cash, com a introdução de Ring of Fire chamando a música de tons mais country da banda, Sad Man's Tongue.

 

A banda indie norte-americana Spoon no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Do you want to get understood? / Do you want one thing or are you looking for sainthood? / Do you run when it's just getting good? / Or do you, do you, do you, do you"

O Spoon sofreu com um mal comum em festivais, ao ter uma plateia incondizente com o seu virtuosismo no palco. Parte disso, não é culpa, necessariamente do público: a banda norte-americana que há décadas goza de certo prestígio na cena indie, com seu som unicamente undergroud, até era conhecida pelos ouvintes da antiga Oi FM, com músicas como The Underdog, Do You e Hot Thoughts, mas – pessoalmente – não o suficiente para recordar das letras. Sim, existiam fãs calorosos bem mais à esquerda do palco, em uma frente já tomada por pessoas aguardando o Red Hot Chili Peppers, mas que abraçaram o som deles, enquanto o resto atrás observava mais como música ambiente.

Com um som mais experimental, entre o psicodélico e o progressivo, com os sintetizadores dando lugar ao violão acústico no som deles nos últimos trabalhos, a banda se esmerou em vários solos e transições entre músicas, mas não foi o suficiente para envolver o pessoal.

 

O duo inglês Royal Blood no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Nothing here to see / Just a kid like me / Trying to cut some teeth / Trying to figure it out"

Voltando ao Palco Ônix, o público que assistia ao duo inglês Royal Blood já era numeroso. Do alto do morro entre a Subida dos Boxes e o Mergulho no Autódromo de Interlagos, era possível ver a plateia indo ao delírio lá embaixo, com mais rodinhas de bate cabeça, enquanto o público sentado ou em pé no declive se surpreendia com o poder de um duo em preencher todo aquele espaço com o seu som pesado. Um hard rock com influências das vertentes do garage e blues rock feito apenas pelo baixo Mike Kerr, às vezes mais cortante que uma guitarra, e a furiosa bateria de Ben Thatcher vindo da litorânea Brighton.

 

A sueca Zara Larsson no telão no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Whatever you do, just don't believe what they say"

Ao lado, logo na sequência, foi a vez do pop contemporâneo tomar o Palco Axe com a sueca Zara Larsson. A loira que, visualmente, parece uma mistura de Paris Hilton com a atriz Sarah Gadon, tem uma voz que, por vezes, recorda Rihanna e, em outros momentos, a Camila Cabello. Ou seja, uma voz forte e potente, que ao lado de suas coreografias, junto de suas bailarinas, garantiram uma boa presença de palco para a plateia que a esperava. No entanto, o seu pop eletrônico, com sintetizadores e seus efeitos de palmas e estalos pré-programados que deixam tudo pasteurizado atualmente, não foram suficientes para apresentá-la e destacá-la para um público que a desconhecia até então, conforme deu para escutar por ali.

 

A banda norte-americana LCD SounsSystem no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Well Daft Punk is playing at my house, my house"

Não dá para dizer que só Daft Punk toca na casa de James Murphy e seus companheiros de LCD SoundSystem, como deu para comprovar pela enérgica apresentação da banda norte-americana aclamada pela sua mistura de indie rock e eletrônico. Trazendo também sintetizadores no meio de seu palco altamente povoado por instrumentos, mas no estilo old school, recordando a sonoridade do Kraftwerk e do New Order, eles levantaram a plateia desde o hit Daft Punk Is Playing at My House. Ao lado da forte presença percussiva, uma marca de autoralidade que qualquer som que se diga moderno ao incorporar elementos eletrônicos precisa.

 

Vislumbre do show da banda norte-americana Red Hot Chili Peppers no Lollapalooza 2018 | Foto: Nayara Reynaud

"Standing in line / To see the show tonight / And there's a light on / Heavy glow"

Abandonando a boa companhia do LCD SoundSystem bem antes do desejado a fim de tentar "pegar um bom lugar" para assistir o Red Hot Chili Peppers, qual não foi a surpresa de ver o Palco Budweiser lotado faltando bem mais de meia hora para o show. Aí naquele estressante processo de buscar um espacinho na frente, mas ver que não vai conseguir ver nada e resolver voltar nesse burburinho, fincar lugar mais para trás, mas lidar com as dificuldades dali ser um local de passagem, dá para dizer que foi a experiência mais agoniante no festival, junto com o aperto no início do show do Muse, em 2014 – mas que, naquele caso, melhorou no decorrer da apresentação – que esta que vos fala já passou.

No entanto, se as distrações constantes da situação impedem uma análise melhor da presença da banda californiana em São Paulo, não conseguiram estragar o contentamento pessoal de ouvir e, mais ou menos, ver ao vivo as músicas que marcaram sua infância e adolescência. Com um público empolgado e, em parte, cantando a plenos pulmões todas as músicas, mais unicamente Under The Bridge e By The Way, que receberam um coro alto e uníssono, eles se arriscaram mais do que no show do Rock in Rio, em setembro passado, embora com menos interações com a plateia. Entre clássicos, apresentaram singles menos conhecidos do público geral, como Airplane, e teve até Jorge Ben Jor com o guitarrista Josh Klinghoffer sozinho no palco tocando e cantando Menina Mulher da Pele Preta.

(No entanto, que eu, pessoa física, e não jornalista, fiquei frustrada por não ouvir Scar Tissue – que eles não executaram também no Rio, mas tocaram semana passada no Chile –, canção que marcou o minha introdução ao rock na MTV, devo confessar)

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