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  • Foto do escritorNayara Reynaud

LOU | Bendita entre os homens

Atualizado: 29 de jul. de 2020


Nicole Heesters em cena do filme alemão (Lou Andreas-Salomé, 2016) | Foto: Divulgação (Cineart Filmes)

Na Alemanha que abriga a ascensão do nazismo, uma fogueira queima vários livros, enquanto um homem bate na porta da casa de uma senhora que, naquele momento, preferia manter-se incógnita. Há uma tensão clara na sequência, como se uma consequência das perseguições políticas e morais do regime de Adolf Hitler pudesse emergir a qualquer momento, no entanto, a abertura de Lou (2016) carrega os aspectos mais simbólicos da cinebiografia da mulher que dá nome ao filme de Cordula Kablitz-Post.

A senhora ali escondida é nada menos do que a escritora, filósofa e psicanalista precursora Lou Andreas-Salomé, contemporânea de homens celebrados até hoje e que eram seus admiradores, como os filósofos Friedrich Nietzsche e Paul Rée, o poeta Rainer Maria Rilke e o pai da psicanálise Sigmund Freud, mas sua história e obra permanecem desconhecidas para tantas pessoas – e, neste sentido, não dá para creditar a culpa somente ao governo nazista por ter banido os escritos dela.

A chegada de Ernst Pfeiffer (Matthias Lier), um admirador de seu trabalho que gera desconfiança de sua dama de companhia Mariechen (Katharina Schüttler, de 13 Minutos, de 2015), porém, representa esse resgate a que o filme alemão se propõe. E igualmente, serve de instrumento narrativo para a protagonista, que aos 72 anos de idade é vivida por Nicole Heesters, relembrar através de flashbacks a sua infância, em que é interpretada por Helena Pieske, de Hitman: Agente 47 (2015); adolescência, com Liv Lisa Fries, de A Onda (2008) e da série Babylon Berlin (2017-); e juventude, na qual Katharina Lorenz a encarna na maior parte da produção. Às vezes, mexendo em velhos cartões-postais, a lembrança ganha vida, com a personagem adentrando o cenário da fotografia ou pintura ali registrada, e demonstra seu caráter questionador desde as brincadeiras de criança e já adolescente na igreja, além de seu primeiro contato com a filosofia e a ida para a universidade na Suíça, algo raro e contestado pela mãe (Petra Morzé).

No entanto, os homens da vida dela, que já aparecem antes na figura do pai (Peter Simonischek, o Toni Erdmann, de 2016), se encadeiam na trama: o pastor e seu primeiro mestre na filosofia, Hendrik Gillot (Marcel Hensema), é o primeiro a cair de amores por ela, sendo seguido pelo amor platônico de Rée (Philipp Hauß), o obsessivo de Nietzsche (Alexander Scheer, de O Jovem Karl Marx, de 2017), o negociador do marido Friedrich Carl Andreas (Merab Ninidze, de Ponte dos Espiões, de 2015), o apaixonado e recíproco de Rilke (Julius Feldmeier, de Nada de Mal Pode Acontecer, de 2013) e outros casos passageiros.

O problema disso não é a mudança brusca de atitude da protagonista que, a princípio se recusa a se relacionar com homem algum até se encantar por um e, depois, se envolver com vários, pois este ponto até é bem construído pelo roteiro de Cordula Kablitz-Post e Susanne Hertel. A questão é justamente a narrativa se estruturar nesses relacionamentos, especialmente os não-concretizados amorosa ou eroticamente, e não no trabalho e nos pensamentos da personagem biografada, se enfraquecendo portanto. Assim, Lou (2017) serve, tal qual indica o curto apelido do título no Brasil, como uma breve apresentação desta figura ao público, a fim de que o espectador, então, busque conhecer quem foi Lou Andreas-Salomé.

 

Lou (Lou Andreas-Salomé, 2016)

Duração: 113 min | Classificação: 16 anos

Direção: Cordula Kablitz-Post

Roteiro: Cordula Kablitz-Post e Susanne Hertel

Elenco: Nicole Heesters, Katharina Lorenz, Liv Lisa Fries, Helena Pieske, Matthias Lier, Katharina Schüttler, Philipp Hauß, Alexander Scheer, Julius Feldmeier, Merab Ninidze, Peter Simonischek, Petra Morzé e Marcel Hensema (veja + no IMDb)

Distribuição: Cineart Filmes

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