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  • Foto do escritorNayara Reynaud

O REI DO SHOW | O picadeiro pop

Atualizado: 9 de jul. de 2020


Hugh Jackman e elenco em cena do filme musical O Rei do Show (The Greatest Showman, 2017) | Foto: Divulgação (20th Century Fox)

Quando desembarcou no Brasil, em fevereiro passado, durante a divulgação de Logan (2017), Hugh Jackman também falava empolgado de seu novo projeto, um filme musical original que levara sete anos para ser realizado. A superprodução dos sonhos do ator australiano, com experiência no gênero demonstrada desde os palcos da Broadway, onde ganhou um prêmio Tony por The Boy from Oz (2003), e também nas telas em Os Miseráveis (2012), conseguiu ser lançada neste final do ano, porém, chega aos cinemas com uma empolgação menos sincera e mais fugaz.

Ao contar bem livremente a história de P.T. Barnum, precursor do showbusiness norte-americano no século XIX com seu show de bizarrices, circos, museus e até uma turnê de cantora lírica, O Rei do Show (2017) esquece a exploração das excentricidades humanas por parte do retratado e prefere fazer uma ode à diversidade, nos moldes do que o entretenimento atual prega, que pouco ecoa com seu discurso vazio. Escolher defender o biografado, interpretado aqui pelo próprio Jackman, é uma escolha que toda produção pode fazer, mas ela não encontra uma construção de personagem que a sustente na trama superficial do roteiro de Jenny Bicks, que escreveu Rio 2 (2014) e vários episódios de Sex and the City (1998-2004), e Bill Condon, diretor de A Bela e a Fera (2017) e Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (2006), e roteirista do premiado musical Chicago (2002). Sendo menos uma biografia e mais uma história genérica de um self made man (um “homem que se fez por conta própria”), a obra serve mais à discussão entre “alta cultura” e “baixa cultura”, que naturalmente surge com a figura do crítico que despreza o que Barnum faz, embora não a aprofunde, do que ao propósito de respeitar as diferenças – o texto, ao menos, relembra à plateia brasileira o verdadeiro significado de embuste, mais grave que o da gíria jovem da moda.

O show das telas, então, se apoia em outras atrações para continuar entretendo o seu respeitável público. O mestre de cerimônias Michael Gracey, que trabalhava em efeitos visuais digitais nos anos 2000, em longas como Ned Kelly (2003), reaparece dirigindo uma superprodução justamente em seu primeiro filme. Seguindo o estilo ágil de Baz Luhrmann, a sua direção, junto com a montagem e a fotografia de Seamus McGarvey, confere um ritmo à narrativa e garantem certa fluidez nos números musicais.

Neles e fora da cantoria, Hugh Jackman apresenta as habilidades e carisma esperados, mas entre as estrelas do elenco, Zac Efron e Zendaya chamam a atenção mesmo com personagens e um romance interracial pouquíssimo desenvolvidos. E se Keala Settle, que faz a “mulher barbada” deste circo, é uma revelação por si só com a sua voz, é Michelle Williams quem se revela cantando em um musical, apresentando a competência habitual para dar veracidade a essa esposa abnegada e apoiadora do protagonista. Já a voz cantante da colega Rebecca Ferguson, na pele da cantora sueca em turnê, é de Loren Allred, participante da terceira temporada do The Voice (2011-), no time de Adam Levine.

No entanto, o que pretende ser o grande chamariz da produção é, mais que obviamente aqui, as suas canções, cuja assinatura de Benj Pasek e Justin Paul, os compositores premiados de La La Land – Cantando Estações (2016), era destaque desde os cartazes e trailers. Com nenhum significado implícito ou de quebra estilística, apenas o intuito de, tal qual Barnum diria, dar à plateia o que – acham que – ela quer, O Rei do Show tenta fazer de sua trilha sonora um hino pop. Uma proposta que garantirá sucesso nas vendas, downloads e streaming, mas que acaba prejudicando a narrativa, ao ser pouco integrada a ela.

Não há uma fusão homogênea entre a sonoridade da época e a música contemporânea, e sim um predomínio da última, com seus sintetizadores, sequenciadores, baterias eletrônicas e ecos de programação eletrônica, que às vezes até soam como o início da produção de um single dos The Chainsmokers – vide Come Alive e Rewrite the Stars. Com uma dinâmica interessante na coreografia e mise-en-scène entre Jackman e Efron no número de The Other Side, por exemplo, a ambientação vaudeville é totalmente quebrada com o dubstep e pop no refrão, assim como Never Enough sair da boca de uma cantora lírica do século XIX fica estranho. As exceções vêm mais ao final, com a valsa de Tightrope se sobressaindo aos “novos elementos” e os sons celtas se mesclando ao neo folk no ambiente do pub em From Now On.

No final, nenhuma delas é tão inesquecível quanto uma City of Stars: você volta para casa e lembra do verso de alguma das músicas, porém, logo o emenda com algum hit pop atual – a pessoa que vos escreve, por exemplo, pensou em This Is Me e, de repente, sua mente foi para XO da Beyoncé... Mesmo assim, se, como Barnum disse, a melhor arte é aquela que faz alguém feliz, O Rei do Show não atinge esse status verdadeiramente, mas entretém o suficiente para não entristecer ninguém.

 

O Rei do Show (The Greatest Showman, 2017)

Duração: 105 min | Classificação: 12 anos

Direção: Michael Gracey

Roteiro: Jenny Bicks e Bill Condon

Elenco: Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron, Zendaya, Rebecca Ferguson, Austyn Johnson, Cameron Seely, Keala Settle, Sam Humphrey, Yahya Abdul-Mateen, Eric Anderson, Ellis Rubin, Skylar Dunn e Daniel Everidge (veja + no IMDb)

Distribuição: 20th Century Fox (Fox Film do Brasil)

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