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  • Foto do escritorNayara Reynaud

PROFESSOR MARSTON E AS MULHERES-MARAVILHAS | Entre os laços da verdade, do desejo e do amor

Atualizado: 8 de jul. de 2020


Luke Evans, Bella Heathcote, Rebecca Hall e elenco em cena do filme Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (2017) | Foto: Divulgação (Sony Pictures)

No ano em que a Mulher-Maravilha (2017) finalmente ganhou as telas do cinema, com o filme de Patty Jenkins mostrando o apelo, até então ignorado pelos estúdios, da Diana de Themyscira com o público, seja como modelo de heroísmo ou ícone feminista, Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (2017) vem na esteira deste sucesso para mostrar a verdadeira história de origem da personagem dos quadrinhos. Não dela, mas do que levou à sua criação por Charles Moulton, pseudônimo utilizado pelo professor de Psicologia William Moulton Marston, interpretado aqui por Luke Evans.

Por isso, o filme de Angela Robinson remonta a bem antes da publicação da HQ, em 1941, voltando ao momento em que a estudante Olive Byrne (Bella Heathcote) adentra a vida deste professor universitário e de sua esposa Elizabeth Marston (Rebecca Hall), que luta para ter seu reconhecimento no campo acadêmico. Assistente na pesquisa científica comportamental deles, em que desenvolveram o precursor do detector de mentiras, a moça desperta o desejo do pesquisador e novos sentimentos em sua companheira, enquanto também se apaixona e se envolve com o casal em um relacionamento a três, que viria depois a se transformar em uma família a seu próprio modo.

O longa coloca as duas mulheres, e não somente a aluna, como inspiração para Marston criar depois um gibi em que pudesse difundir as ideias que não podia difundir mais em aulas, a exemplo de sua teoria DISC sobre a dominância, indução, submissão e conformidade como principais emoções humanas. Convocando a Mulher-Maravilha para ser até presidente dos Estados Unidos, William era entusiasta do hoje tão comentado empoderamento das mulheres, mas o seu interesse pelo sadomasoquismo como forma de libertação feminina, transposto através dos desenhos, desagradou setores mais conservadores da sociedade norte-americana. Isso é representado no interrogatório dele na Associação de Estudos da Criança da América, que permeia toda a narrativa, às vezes com diálogos expositivos redundantes e/ou desnecessários, que também aparecem no clímax final e em nada parecem com as mensagens subliminares do próprio quadrinista.

Robinson, responsável pelo remake Herbie: Meu Fusca Turbinado (2005), volta ao cinema após dirigir vários episódios e produzir as últimas temporadas da série L Word (2004-09) e exercer esta função em outras atrações televisivas, como Hung (2009-11) e True Blood (2008-14), mas ainda traz aqui alguns resquícios de seu trabalho na televisão, pois é como se o filme fosse dividido em duas partes para a TV. A primeira metade é quase irretocável e a diretora consegue construir muito bem a tensão sexual e emocional entre o trio de protagonistas até o clímax desse jogo de sedução que segue os padrões da teoria do próprio Marston, mas a segunda segue um caminho convencional que contrasta com a relação deles, então vivendo juntos na mesma casa e formando uma família.

A fotografia de tons amarelados segue à risca a cartilha dos filmes de época, com exceção do momento de “revelação” da figura da Mulher-Maravilha, que tem esse aspecto dourado ressaltado de um modo épico que faz sentido à passagem. No entanto, se a direção é eficiente quando o sexo fica na sugestão dos olhares, palavras e cordas, nas poucas cenas em que ele é consumado, a câmera de Angela se torna tímida e ganha o mesmo pudor dos vizinhos dos personagens. Talvez a intenção seja transmitir a ideia de normalidade e não bizarro ao público, cercando o relacionamento a três com os mesmos clichês cinematográficos dos casais heteronormativos, porém a quebra da tensão narrativa se torna inevitável.

O melhor do trabalho de Robinson está na direção de atores, tendo um elenco afinado em mãos. Se o galês Luke Evans, de A Bela e a Fera (2017) e A Garota no Trem (2016), tem o charme ao seu favor – bem superior ao William da vida real, como mostram as fotos históricas e pessoais nos créditos finais –, é competente ao mostrar a gana do pesquisador e um amor sincero por ambas as companheiras. Bella Heathcote, atriz australiana de Demônio de Neon (2016) e Cinquenta Tons Mais Escuros (2017), equilibra inocência, sagacidade e desejo em sua Olive, enquanto Rebecca Hall, de Atração Perigosa (2010) e Christine (2016), mostra a destreza e inteligência emocional de sempre em Elizabeth e suas várias curvas de desenvolvimento.

Por fim, é às duas Mulheres-Maravilhas da vida de Marston que a obra exalta mais do que a personagem fictícia, não só pela força e inteligência, mas por encararem a sua própria verdade e lutarem por ela.

 

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (Professor Marston and the Wonder Women, 2017)

Duração: 108 min | Classificação: 16 anos

Direção: Angela Robinson

Roteiro: Angela Robinson

Elenco: Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote, Connie Britton, Monica Giordano, JJ Feild, Chris Conroy e Oliver Platt (veja + no IMDb)

Distribuição: Sony Pictures

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