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  • Foto do escritorCauê Petito

MOSTRA SP 2017 | Bate-Papo com Paul Vecchiali

Atualizado: 1 de mai. de 2021


O cineasta francês Paul Vecchialli | Foto: Mario Miranda Filho / agenciafoto.com.br (Divulgação / Mostra SP)

Não é todo dia que se encontra o cineasta Paul Vecchiali na saída de uma sessão de cinema. Após a primeira exibição de O Ignorante (2016) durante a retrospectiva em homenagem a sua obra, na 41ª Mostra, o diretor surpreendeu o público presente, aparecendo para um bate-papo com os interessados. "Ele pesquisa os horários de seus filmes e gosta de conversar com o público após as sessões", disse sua intérprete. Improvisando uma das mesas da bombonière do Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca, o diretor sentou com o Nervos e mais 4 pessoas para conversar sobre o filme, que gira em torno de Rodolphe, um rico empresário, vivido pelo próprio Vecchiali, que revê seu passado – e as mulheres que o preenchem – enquanto busca seu primeiro amor, Marguerite (Catherine Deneuve). Seu filho, Laurent (Pascal Cervo) está presente na maioria destes devaneios. E foi justamente sobre essas revisões que o papo, que vai das sensibilidades de Vecchiali até a sua amizade com Jean-Luc Godard, começou.

Confira alguns trechos desta conversa:

 

O Ignorante


Vocês perceberam que o filme é um flashback? Quase nenhum crítico na França chegou a perceber que o filme inteiro é um flashback. A mesma frase no início, e no final. Há uma possibilidade do onírico, porque no fim é como se ele (o protagonista) estivesse contando a história. (...) A narrativa de lembranças termina com uma canção, enquanto nosso protagonista de narração não confiável revê, de forma onírica, estes momentos.


"É um personagem bastante desagradável e que eu pessoalmente condeno... E é por isso que eu atuei ele"


É possível que este senhor que encarno esteja se dando o papel do bom, do bonito de alguma maneira. Podemos quase falar que o filme começa com a música do final. Ao final, o filho dele não entendeu e deixou passar a oportunidade, como diz na própria música. Acho o termo onírico formidável. É um personagem bastante desagradável, e que eu pessoalmente condeno... e é por isso que eu atuei ele.


Vecchiali escolhe por inserir a música inteira enquanto este personagem revisita suas memórias, ao invés de cortar para os créditos. A escolha pode ser vista para muitos como estranha:

O músico me disse que tinha medo de que fosse muito longa. Ele disse: "você deveria colocar a música em cima dos créditos", mas você sabe muito bem que assim que os créditos começam, as pessoas vão embora. Eu fiz isso porque acho que a música final repassa o filme inteiro.



Os Sete Desertores


"Um Cinema onde tudo treme"


Sobre a artificialidade dos efeitos sonoros em "Os Sete Desertores" (2017), que foi também exibido nesta Mostra, e sua preocupação com os efeitos sonoros:

Eu tenho a sorte de ter um mixador excepcional, que sempre faz a lista de todos os sons comigo, do nível do volume com bastante precisão. Nesse filme, tem uma sessão particular que explora como eu considero o cinema, na sequência em que meu personagem em O Ignorante reencontra a Marguerite: é um plano sequência em duas partes. Será que a primeira parte em off é real ou virtual? Será que esta sequência é um sonho? E isso é algo que está confirmado no momento em que ele segura o filho pela camisa e pergunta "O que Marguerite falou de mim?" Você pode conceber que isso é real, ou não. Esse é o cinema que quero fazer. Um cinema onde tudo treme.


Se Vecchiali se sente solitário no cinema atual e a relação que tem com Jean-Luc Godard:

A verdade é que estou praticamente sozinho fazendo isso, mas não me sinto solitário. Temos por exemplo o Godard, um cineasta que destrói a homogeneidade constantemente. Temos uma relação de amigos, mas bem é ocasional. De vez em quando, ele adora um filme meu e me faz uma ligação (risos). O Godard é meio estranho, uma vez eu recebi um livro dele que vinha sem o remetente. O que foi mais estranho era que eu havia acabado de terminar Os Sete Desertores e o livro que ele me mandou falava apenas de guerra. Ele queria fazer um curta que se chama "Bom Dia Palavra", e meu próximo filme se chama A Imagem e A Palavra (risos)! Achei tão estranhas essas coincidências que cheguei a escrever uma carta para ele explicando essa história, mas ele obviamente não respondeu, porque o Godard se cortou completamente do resto do mundo. Levei esse envio anônimo do livro como um simbolo de amizade.


O Godard falou que na primeira vez que ele assistiu Once More (1988), se sentiu pela primeira vez pequeno diante na tela. Vindo da boca de alguém que eu considero um Deus... não me sinto tão solitário.


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