top of page
  • Foto do escritorNayara Reynaud

TRANSFORMERS: O ÚLTIMO CAVALEIRO | O cinema pós-moderno de Transformers

Atualizado: 25 de mai. de 2020


Mark Wahlberg em cena do filme Transformers: O Último Cavaleiro (2017) | Foto: Divulgação (Paramount)

Dez anos se passaram desde a estreia do primeiro filme em live-action sobre os robôs alienígenas que se transformam em veículos e outras máquinas terráqueas, e a franquia cinematográfica baseada na linha de brinquedos da Hasbro, por sua vez, inspirados nas action figures robôticas japonesas, já está em seu quinto capítulo. Nele, Michael Bay encerra – até que ele mesmo diga o contrário – a sua participação como diretor da saga, igualmente detratada e lucrativa, e leva seu estilo e proposta de cinema ao máximo em Transformers: O Último Cavaleiro (2017). E justamente por isso a ousadia de dizer que a obra se torna um exemplar fruto e, ao mesmo tempo, agente da pós-modernidade.

As características estão desde a sua origem, primeiro como uma produção que faz parte de um universo fílmico, derivado de um dos brinquedos, proveniente de outro “estrangeiro”. Presente em multimeios, Transformers é mais um produto da era das franquias midiáticas, em que a tendência da narrativa transmídia dá o tom nesta cultura da convergência, como diria o teórico Henry Jenkins. A outra está na própria história, cujas protagonistas são as máquinas, que são aqui humanizadas em uma possível analogia aos antes símbolos da modernidade ressignificados neste processo sociocultural corrente que as integra cada vez mais à sociedade e se revelam como extensão do indivíduo.

No entanto, neste novo confronto entre Autobots e Decepticons na Terra, o que se vê na tela é o ápice do bombardeio de informações para o qual a franquia se encaminhou. Intencionalmente ou não, Bay executa a transposição audiovisual deste conceito que se configura na atualidade, em que a produção e recepção de conteúdos crescem, se intensificam e se globalizam continuamente, enquanto eles não criam raízes: se muitos se dissipam no meio desta avalanche informacional, poucos se conectam a fim de agregarem conhecimento. Da mesma forma, O Último Cavaleiro traz um fluxo incessante de dados, do roteiro à montagem e sonorização, em que o espectador sai da sessão esgotado, seja de cansaço ou vazio, pela dificuldade de acompanhar e reter tanta informação – isso se o filme já não for para a fila do Lixo da Memória, como em Divertida Mente (2015).

Começa pelo prólogo no qual a mitologia de Cybertron se funde ao mito bretão do Rei Arthur, com os Cavaleiros da Távola Redonda sendo conclamados guardiões de um poderoso cetro de tecnologia dos alienígenas. Logo, fica claro que Cade Yaeger (Mark Wahlberg), protagonista do último longa, será o último cavaleiro do subtítulo. Neste, o inventor assume de vez a posição de protetor dos Autobots, sendo tão caçado quanto eles, enquanto as autoridades chegam a fazer acordos com Megatron e seus companheiros, dentre eles um decepticon assaltante de banco – por que uma dessas máquinas extraterrestres que odeiam humanos precisaria fazer isso é uma incógnita sociológica sobre a evolução cybertrônica na Terra que ficará no ar. Até Optimus Prime se torna uma ameaça ao retornar ao seu planeta e ficar sobre a influência de sua deusa criadora, Quintessa.

Se a própria mitologia dos personagens fictícios se torna cada vez mais confusa no decorrer da saga, o que dirá a História da humanidade, cujas páginas que os roteiristas Art Marcum, Matt Holloway, Ken Nolan e Akiva Goldsman aleatoriamente abriam nos livros devem ter os inspirado. A franquia que já apresentou dinossauros alienígenas robóticos mostra ao público que Bumblebee derrotou Hittler na II Guerra Mundial, em uma prova de que o roteiro desta produção consegue ser tão randômico quanto a playlist automática de uma pessoa eclética no Spotify/Deezer.

Mas se nem Stanley Tucci se importa em participar de novo, agora rapidamente como um Merlim bêbado, nem Sir Anthony Hopkins se restringe em mostrar o dedo do meio no meio de uma perseguição de carros, dá para dizer que o filme não se leva a sério; ou leva a sério demais essa ideia de autodesmitificação que as redes sociais promoveram. Por isso, o cineasta não se importa em fazer de Laura Haddock como uma espécie de Megan Fox inglesa, ao colocar a atriz – que, fora das telas, não se parece tanto com a norte-americana – no papel, para ele, avançado de uma mulher inteligente e dotada de um grande poder, mas continuar a fetichizar a figura feminina. E a personagem ainda se chama Vivian Wembley: mais britânico, impossível.

Outro fetiche de Bay é o estético, que se evidencia na plasticidade do seu cinema. E há que se ressaltar que os efeitos especiais do longa, exceto aqueles envolvendo Quintessa no terceiro ato, são mais acabados e se mostram menos artificiais do que CG’s de muitos filmes de super-heróis. A sequência de imagens bonitas na tela se assemelha a um feed do Instagram, mas nem concede tempo para apreciá-las neste espetáculo ininterrupto de destruição. Na trama em que os heróis precisam evitar que a Terra e sua energia sejam sugadas por Cybertron, para que o planeta originário dos Transformers reviva, não há parada nem em um instante de conversa menos tensa ou no plano de contemplação no ferro velho de Izabella (Isabela Moner), uma garota mexicana que de repente aparece no meio da ação em duas ocasiões, pois a câmera está constantemente afoita.

A experiência, ainda mais em 3D e IMAX, se torna angustiante e a fuga da realidade desenvolvida pela superprodução não gera a catarse esperada, porque o público não sai em completo êxtase ou euforia, como era de se esperar no hedonismo que cerca o cinema atual dos blockbusters, e sim, atordoado. Talvez, quando conseguirem ampliar a capacidade do cérebro humano, quem sabe se enxergue nisso a potencialidade desse bombardeio informacional como obra de arte. Mas, no momento, Transformers: O Último Cavaleiro falha justamente naquilo que claramente se propõe: em proporcionar duas horas e meia de entretenimento.

 

Transformers: O Último Cavaleiro (Transformers: The Last Knight, 2017)

Duração: 149 min | Classificação: 12 anos

Direção: Michael Bay

Roteiro: Art Marcum, Matt Holloway e Ken Nolan, com argumento de Akiva Goldsman, Art Marcum, Matt Holloway e Ken Nolan

Elenco: Mark Wahlberg, Anthony Hopkins, Josh Duhamel, Laura Haddock, Santiago Cabrera, Isabela Moner, Jerrod Carmichael e Stanley Tucci (veja + no IMDb)

Distribuição: Paramount Pictures

0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo
bottom of page