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  • Foto do escritorNayara Reynaud

MULHER DO PAI | Uma garota entre fronteiras

Atualizado: 22 de mai. de 2020


Marat Descartes e Maria Galant em cena do filme gaúcho Mulher do Pai (2016), de Cristiane Oliveira | Foto: Divulgação


A fronteira entre Brasil e Uruguai não está retratada só como cenário desta coprodução dos dois países, mas também se traduz na tela nas escolhas narrativas minimalistas e estética de forte influência do cinema latino que Cristiane Oliveira traz em seu primeiro longa-metragem, selecionado no Festival de Berlim deste ano. Assinada por Heloísa Passos, a fotografia de planos estáticos inunda-se pela neblina que torna discreto o verde dos pampas, em uma paleta dessaturada, assim como a direção segura em seu foco restrito. E justamente nas duas categorias, o filme gaúcho Mulher do Pai (2016) sagrou-se vencedor no último Festival do Rio, além do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, no mesmo evento, para a uruguaia Verónica Perrotta, ótima na pele da professora que serve de ponto de encontro e conflito entre pai e filha afastados em uma pequena vila no interior do Rio Grande do Sul, e da Abraccine para a produção estreante, conferido pela crítica na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2016.

A morte de Olga (Amélia Bittencourt), que criou com todos os cuidados o filho, Ruben (Marat Descartes sempre construindo personagens envolventes), desde que este ficou cego em sua juventude, e sua neta órfã de mãe, Nalu (uma contida, no bom sentido, Maria Galant), faz com que ambos passem a olhar um para o outro, verdadeiramente. O pai, que, em sua cegueira também metafórica – aliás, Oliveira coloca um deficiente visual em destaque, assim como fez em seu premiado curta Messalina (2004) –, antes enxergava sua filha como uma menina que devia estar sempre ali à sua disposição para fazer suas vontades, passa a vê-la como uma mulher que desabrocha para a vida. A garota também passa a desconstruir a imagem paterna austera dele, enquanto se encanta por um rapaz uruguaio e pela possibilidade de sair do vilarejo.

Reconciliação e ciúme surgem, então, quando a uruguaia Rosario, professora de artes dela, entra como novo elemento desta dinâmica familiar em transformação, cuja tensão erótica é construída de forma instigante e plausível por Cristiane. Reforçando uma tendência do cinema nacional contemporâneo em olhar para os nossos jovens, antes negligenciados, a diretora traz a adolescência como este momento de descoberta, de identidade e também sexual, com um bem-vindo viés feminino. O ritmo mais lento da narrativa demonstra uma paciência que condiz com o cenário e a proposta de acompanhar a evolução dos sentimentos nos personagens, que importa mais à direção sem grandes arroubos da gaúcha do que à trama, que em si é cotidianamente simples.

 

Mulher do Pai (2016)

Duração: 94 min | Classificação: 14 anos

Direção: Cristiane Oliveira

Roteiro: Cristiane Oliveira

Elenco: Maria Galant, Marat Descartes, Verónica Perrotta, Fabiana Amorim, Amélia Bittencourt, Aurea Baptista e Jorge Esmoris (veja + no IMDb)

Distribuição: Vitrine Filmes

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