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  • Foto do escritorNayara Reynaud

SOUVENIR | Uma lembrança de presente

Atualizado: 7 de mai. de 2020


Isabelle Huppert e Kévin Azaïs em cena do filme francês Souvenir (2016) | Foto: Divulgação (Pandora Filmes)

O título já entrega: a nova reviravolta na vida da protagonista, uma cantora em ostracismo, é apenas uma pequena lembrança dos tempos passados em que foi alçada ao estrelato. Souvenir (2016) aponta um interessante viés “posterior” a um clichê muito recorrente no cinema, que é o da “volta por cima”, mostrando que as consequências podem não ser sempre agradáveis. Uma pena que o segundo longa do diretor belga Bavo Defurne, após vários curtas e o coming of age homossexual No Caminho das Dunas (2011), não se arrisque nesse caminho e se atenha ao lugar comum do tema e do romance intergeracional que explora.

O filme se sustenta pelo talento de Isabelle Huppert, que tem aqui um veículo para passear por uma área diferente de atuação, já que se trata de uma obra bem mais leve do que seus papéis, geralmente, muito densos. Após finalmente ganhar destaque nas premiações hollywoodianas, incluindo a indicação ao Oscar deste ano pelo complexo Elle (2016), a atriz é apresentada para uma parcela do público que não tem o costume de acompanhar o cinema francês, do qual ela é a diva atual. Até porque ela é incansável em aumentar os títulos em sua filmografia.

No entanto, mesmo aqueles não muito familiarizados com seu trabalho hão de perceber o deslocamento de sua figura sempre elegante no meio da rotina mecânica de uma fábrica de patês – sim, apesar de parecerem bolos para a maioria da plateia brasileira, aquilo são terrines, patês assados em tigelas de mesmo nome. O espectador a conhece como Liliane Cheverny, mas, um dia, sua personagem foi Laura, a cantora que representou o país no Festival Eurovisão da Canção, o Eurovision, competição musical que faz parte da cultura europeia.

Os festivais de MPB que já foram muito populares no Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, ainda não dão ideia da importância da disputa internacional entre os países europeus pela melhor canção do continente. Tanto que o longa faz questão de colocar sua protagonista como a vice-campeã da edição de 1974, justo a que os suecos do ABBA ganharam com a música Waterloo [cuja apresentação segue como um bônus no final deste post], primeiro sucesso mundial do grupo que se tornaria ícone da disco music – porém, quem ficou com o segundo lugar não foi a fictícia Laura e sim a italiana Gigliola Cinquetti, com . O resultado rendeu fama à cantora da trama, até que a separação de seu marido e empresário, Tony Jones (Johan Leysen), marcasse a derrocada de sua carreira até se tornar a incógnita Liliane, funcionária responsável pela decoração final dos produtos na fábrica.

Após passar anos despercebida, um novo empregado da charcuteria descobre sua identidade passada. Jean Leloup (Kévin Azaïs), o jovem de 21 anos que busca o salário na indústria, mas tem o sonho de se profissionalizar como boxeador, acaba se envolvendo com a cantora pelo qual seu pai era fã. O roteiro de Jacques Boon e Yves Verbraeken, escrito junto com Defurne, é sempre muito respeitoso com o casal, sem fazer da diferença de idade uma caricatura, mas nunca se aprofunda nesse relacionamento, assim como nas possíveis discussões sobre como a idade e o sexismo deixaram esta mulher esquecida pelo tempo e seu público. O romance só ganha vida por causa dos atores, já que Azaïs, conhecido pelo seu protagonista em Amor à Primeira Briga (2014), exala a simpatia e paixão do seu personagem, enquanto Huppert domina a cena, como é de costume.

Isabelle ainda tem a chance de mostrar a sua voz – embora ela soe bem baixa, sendo sobreposta pelo volume da base da música, em certas cenas, o que parece ser mais um problema da projeção do que uma falha de mixagem de som do filme – em alguns números, como o da canção que marca a sua volta aos palcos. Composta pelo grupo Pink Martini como uma alusão clara à relação da cantora com o jovem, Joli Garçon pode até não agradar alguns ouvidos na sala do cinema, mas, com certeza, ficará martelando a cabeça de todos que dali saírem como uma lembrança de Souvenir.

 

Souvenir (Souvenir, 2016)

Duração: 90 min | Classificação: 14 anos

Direção: Bavo Defurne

Roteiro: Jacques Boon, Bavo Defurne e Yves Verbraeken

Elenco: Isabelle Huppert, Kévin Azaïs, Johan Leysen, Jan Hammenecker e Anne Brionne (veja + no IMDb)

Distribuição: Pandora Filmes

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