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FEST ARUANDA 2022 | Cinema movido a paixão


Cena do curta-metragem paraibano Déjà Vu (2022), de Carlos Mosca, presente no 17º Fest Aruanda | Foto: Divulgação (Créditos: Bianca Liége)
Cena do curta-metragem paraibano Déjà Vu (2022), de Carlos Mosca, presente no 17º Fest Aruanda | Foto: Divulgação (Créditos: Bianca Liége)

O que leva uma pessoa, em sã consciência, a fazer cinema independente no Brasil? Apenas pela paixão mesmo. Foi exatamente essa relação que pôde ser apreciada nos curtas-metragens paraibanos exibidos ontem no 17o Fest Aruanda, festival de cinema que acontece em João Pessoa, na Paraíba, até dia 7 de dezembro.


Pela Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino, dedicada aos curtas locais, Ana Célia Gomes trouxe seu singelo A Espera (2022), do interior do estado para a capital. Nele, a câmera assume a perspectiva de um dos objetos de afeto da realizadora: os animais. Ativista da causa, Célia passeia pelas ruas de Sumé (PB) para que o espectador acompanhe a saga diária de incontáveis animais abandonados que vagueiam por qualquer cidade brasileira. Com isso, a diretora contempla o olhar dos excluídos, uma tradição forte do cinema nacional, mas com o diferencial que essa parcela específica de excluídos não tem como verbalizar suas dores.


Durante o debate entre realizadores, Gomes confirmou que não é capaz de separar suas paixões no momento de criação artística. Tanto que, além da causa do seu coração e das paisagens da cidade que defende, o curta traz um poema narrado pela própria cineasta, que foi a peça fundamental de sua atual criação. Com isso, é impossível não sentir o mesmo sentimento que motivou toda a concepção artística por trás de A Espera. Como uma salutar forma de contenção, Ana Célia se cercou de uma equipe de profissionais audiovisuais de sua confiança, para que a mensagem pudesse ser transmitida sem se perder em tanta motivação afetiva.


Já na Mostra Competitiva Nacional, Carlos Mosca trouxe Déjà Vu (2022), um filme com claros ingredientes autobiográficos. A história se passa dentro de duas casas dispostas lado a lado, mas que funcionam como polos opositores.


Na casa azul, de atmosfera mais solar, mora um cineasta independente com seu companheiro. Em uma noite de celebração, o assunto da conversa do casal em um primeiro momento contrasta com o cenário. Os personagens comentam os apuros profissionais que assolam toda uma classe, mas chegam à mesma conclusão do debate realizado no dia seguinte da sessão: ainda que tenham que passar por apuros extremos, a paixão pelo cinema é suficiente para que sigam em frente.


Toda essa conversa amorosa é ouvida por um menino que mora na casa vizinha, de fachada vermelha. Ele é proibido pela mãe de conversar com o vizinho, em clara expressão de homofobia. A residência tem uma atmosfera muito mais obscura, sendo sede de brigas entre os pais do protagonista. Sem levantar a bandeira com grande veemência, Déjà Vu consegue explicitar as contradições entre seus cenários. Na primeira casa, o amor que é condenado por retrógrados é expresso de maneira saudável e carinhosa. Por sua vez, no lar de Joãozinho, a relação entre seus pais é socialmente aceita, ainda que seja salpicada por violência e ofensas direcionadas à sua mãe.


A sutil complexidade do curta é entregue de maneira orgânica, pois se trata de uma proposta que saiu da mente de Carlos Mosca, que assume várias funções, como roteiro, direção e montagem. Nessa seara, o que se destaca é a função de base do realizador, versado diretor de arte com colaborações com diversos realizadores. Sendo assim, vemos nos cenários e intervenções estéticas mais camadas do discurso do realizador de Campina Grande (PB).


Para os próximos dias de evento, espera-se que mais exercícios de paixão sejam apreciados na gigante tela de projeção do festival. Para o futuro do audiovisual paraibano, e brasileiro, espera-se que políticas públicas sejam reativadas e renovadas para dar mais combustível para toda uma classe criativa de grande potencial que abrigamos no país.

 

A Espera (2022)

Duração: 12 min

Direção: Ana Célia Gomes

Roteiro: Ana Célia Gomes (veja + no site)

Produção: Brasil / Sumé-PB

 

Déjà Vu (2022)

Duração: 12 min

Direção: Carlos Mosca

Roteiro: Carlos Mosca

Elenco: Márcio de Paula, João Henrique e Rafa Guedes (veja + no site)

Produção: Brasil / Lagoa Seca-PB


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