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  • Foto do escritorNayara Reynaud

RICOS DE AMOR | Receita clássica à brasileira

Atualizado: 1 de ago. de 2020


Giovanna Lancellotti e Danilo Mesquita em cena do filme brasileiro Ricos de Amor (2020), de Bruno Garotti | Foto: Divulgação (Netflix)

Uma pessoa rica que se faz passar por pobre – ou, em uma das variáveis, alguém da realeza que passa a viver como plebeu – para, a partir dessa experiência, valorizar aqueles que se importam com a sua essência e não com seu dinheiro ou poder, sendo este um ensinamento para si própria. Essa clássica história já foi contada inúmeras vezes em comédias românticas no cinema e também em tramas de telenovelas. Agora é a hora de vê-la no filme Ricos de Amor (2020), nova produção nacional da Netflix que segue essa receita tradicional com um toque de brasilidade em seu tempero.


Isso quer dizer que não faltam clichês, desde o título do longa de Bruno Garotti, diretor dos filmes adolescentes Cinderela Pop (2019) e Eu Fico Loko (2017). A vida boa do herdeiro do “Rei do Tomate” é colocada em cheque por dois acontecimentos que ocorrem com Teco, o protagonista interpretado por Danilo Mesquita, que esteve recentemente em Éramos Seis (2019-20) e na série original da plataforma Spectros (2020). De um lado, seu pai Teodoro (Ernani Moraes) exige que ele passe a trabalhar em seu império de plantações e fábricas e vá para a sede no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que o rapaz conhece a dedicada estudante de medicina Paula, vivida por Giovanna Lancellotti, que já trabalhou com o cineasta em Tudo Por um Pop Star (2018) e novelas como Segundo Sol (2018). Ao não revelar a sua verdadeira origem para a garota que o encantou, o jovem decide inverter os papéis com o seu amigo de infância Igor (Jaffar Bambirra) e se apresentar como o filho dos funcionários da fazenda tanto para a amada e quanto no programa de aprendizes da empresa.


Não é preciso ser especialista no gênero para imaginar as confusões que sairão daí e aonde vai dar esta história, escrita por Garotti e Sylvio Gonçalves, seu corroteirista em Eu Fico Loko (2017), além de ser responsável pelo script da franquia S.O.S.: Mulheres ao Mar e outras comédias nacionais. Aliás, se o roteiro dos dois apela para resoluções fáceis e diálogos fracos em alguns momentos, tem como virtude valorizar seus melhores ingredientes, seja na habilidade de extrair humor das situações criadas a partir da premissa ou ao utilizar as convenções narrativas para movimentar um grande número de personagens secundários, desde as coadjuvantes Monique (Lellê, atriz e cantora antigamente conhecida como Lellezinha) e Alana (Fernanda Paes Leme) até como o porteiro interpretado por Marcos Oliveira, o eterno “Beiçola”, cresce na trama e ganha cenas ótimas. Isso não necessariamente quer dizer que todos os papéis são bem desenvolvidos, porém, a forma como todos vão se integrando à narrativa possui aquela típica fluidez da dramaturgia brasileira, vista com os núcleos de novelas.


A dupla ainda tenta encorpar o molho abordando temas mais complexos do que o habitual neste tipo de produção, mesmo que nem sempre acerte o ponto quando o progressismo do discurso bate de frente com os clichês das rom-com’s. Assim, a importância de se falar do assédio que a protagonista sofre no trabalho se choca com o apaziguamento das mentiras dos personagens masculinos. Da mesma forma, as problemáticas de classes sociais são apontadas e suavizadas no instante seguinte com um momento romântico, por exemplo – sim, estamos falando da cena do táxi e do cavalo, porém, vale frisar que Mesquita e Lancellotti formam um bom casal principal.


Tal qual o jovem herdeiro em busca de uma identidade, a própria obra passa por esse mesmo conflito nos rumos que toma, embora seja reconhecível o seu esforço. Com a direção pop de Garotti e sua codiretora Anita Barbosa, plasticamente atraente para o mercado internacional assim como a participação do DJ Alok em cena e igualmente na trilha sonora, o prato final é até mais satisfatório do que a média entregue por telefilmes do gênero, um filão explorado há décadas pelo canal canadense Hallmark e, nos últimos anos, pela Netflix. E experimentar a comédia romântica de sempre, mas à moda brasileira, com direito à DR no corredor do ônibus cheio, não deixa de ser uma variação no cardápio para o público.

 

Ricos de Amor (2020)

Duração: 92 min | Classificação: 10 anos

Direção: Bruno Garotti e codireção de Anita Barbosa

Roteiro: Bruno Garotti e Sylvio Gonçalves

Elenco: Danilo Mesquita, Giovanna Lancellotti, Jaffar Bambirra, Lellê, Fernanda Paes Leme, Ernani Moraes, Bruna Griphao, Jeniffer Dias, Caio Paduan, Marcos Oliveira e participação especial de Alok (veja + no IMDb)



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